Os primeiros 1000 dias de vida são decisivos
Os primeiros 1000 dias de vida são considerados uma janela de oportunidade crucial para o desenvolvimento e crescimento ótimo. Sabe-se que, nesta altura, uma nutrição adequada promove bons níveis de saúde, prevenindo excesso de peso e obesidade, doenças crónicas não-transmissíveis (como diabetes mellitus, dislipidemias, doenças cardiovasculares) e pode potenciar o correto desenvolvimento cognitivo, saúde cardiovascular e celular, otimização da densidade mineral óssea, entre outros.
1000 dias de vida
Os primeiros 1000 dias compreendem o período de tempo que decorre desde o primeiro dia da gestação até aos 2 anos de vida.
Primeiros 1000 dias de vida - Gestação
O planeamento da gravidez, assegurando um estilo de vida saudável é crucial para garantir a saúde da mãe e do bebé.
A deteção de possíveis desequilíbrios nutricionais é essencial, nomeadamente dos nutrientes-chave para a gestação, como o ferro, ácido fólico, o iodo, e as vitaminas B12 e D. Estes têm influência no correto desenvolvimento do feto, contribuindo para processos como a diferenciação celular e o desenvolvimento do tubo neural.
Fatores como a alimentação da mãe (total de calorias e composição em macronutrientes – hidratos de carbono, proteína e gordura, e micronutrientes – vitaminas e minerais), peso da mãe, microbioma (microorganismos que habitam o corpo humano) e outros fatores ambientais poderão afetar e alterar a expressão génica e, assim, contribuir, ou não, para o estado de saúde geral do bebé e futuro adulto.
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Primeiros 1000 dias de vida - Lactação
Assegurar o aleitamento materno exclusivo até aos 6 meses de idade (e até aos 2 anos de idade, a acompanhar a diversificação alimentar), sempre que este é possível, acarreta inúmeros benefícios.
Devido à sua composição, o aleitamento materno parece diminuir o risco de asma, gastroenterite aguda, dermatite atópica e, possivelmente, também diabetes e obesidade.
O leite materno é rico em ácidos gordos polinsaturados de cadeia longa que parecem estar associados ao controlo da pressão arterial; por outro lado a quantidade de bifidobactérias e lactobacillus existentes no leite humano, bem como os seus oligossacáridos livres (que são provável alimento dos probióticos do intestino do bebé) contribuem para a alteração benéfica da microbiota intestinal do lactente, o que parece, por sua vez, associar-se a um menor risco de obesidade no futuro.
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Primeiros 1000 dias de vida - Introdução alimentar
Introdução Alimentar
A introdução alimentar dá-se por volta dos 4-6 meses de idade e, quando corretamente realizada, promove autonomia, estimula hábitos alimentares saudáveis e pode prevenir o desenvolvimento de alergias alimentares.
Existem duas principais abordagens de introdução alimentar: tradicional e baby-led weaning sendo que a principal diferença assenta na forma de oferecer os alimentos.
- O baby-led weaning apresenta algumas vantagens, nomeadamente, por ser uma experiência multissensorial, que promove a autorregulação do apetite e saciedade quando adultos e maior recetividade aos alimentos diminuindo a probabilidade de seletividade alimentar
- Já a abordagem tradicional continua a ser a mais praticada em Portugal e aconselhada por pediatras, consistindo numa introdução gradual de alimentos, sobretudo numa forma pastosa, sendo o adulto a providenciar a alimentação.
Ambas as abordagens, quando realizadas da forma correta e tendo como principal objetivo a saúde do bebé, são interessantes.
Recomendamos a leitura do artigo:
Primeiros 1000 dias de vida - Hábitos até aos 2 anos
Alguns cuidados deverão ser tidos na alimentação da criança até aos 2 anos de idade:
- O comportamento alimentar desenvolve-se cedo na vida e resulta da interação entre fatores genéticos e os fatores ambientais. O papel dos pais é crucial nesta fase de forma a modelar a autorregulação do apetite. Práticas como a utilização de alimentos como recompensa/punição, forçar a ingestão de todo o conteúdo que está no prato, comer enquanto se estão a fazer outras atividades como assistir a televisão podem comprometer a relação da criança com a alimentação.
- A exposição a alimentos normalmente preteridos pelas crianças (como por exemplo, fruta e vegetais) deverão ser introduzidos o mais cedo possível, apresentados de diversas formas e em várias situações e repetidamente (até 8 vezes).
- Já os alimentos ricos em açúcar e sal deverão ser introduzidos o mais tarde possível, pelo seu conteúdo nutricional não ser, na sua maioria das vezes, equilibrado e para não “habituar” o paladar do bebé a este tipo de sabores mais intensos.
- Durante o período da introdução alimentar, uma dieta com alto teor energético e em proteína animal está associada a um índice de massa corporal mais elevado, pelo que deverá optar por uma alimentação equilibrada do ponto de vista calórico e dos grupos alimentares, incluindo sempre que possível alimentos de origem vegetal.
O acompanhamento de um nutricionista nos primeiros 1000 dias de vida é essencial para garantir um bebé e, consequentemente, um adulto saudável.
Felizmente há cada vez mais cuidadores interessados em educar nutricionalmente os seus bebés aconselhando-se junto do nutricionista.
Por outro lado há desafios que se colocam nesta fase como as alergias alimentares e mesmo as recusas (neofobias), em que o nutricionista terá um papel decisivo para reduzir a ansiedade dos cuidadores e promover a saúde da criança.
Nos próximos artigos iremos abordar estes temas. Não perca! E marque já a consulta de educação nutricional e diversificação alimentar para o seu bebé.