Leite de vaca – controvérsias

Como vai caro leitor?

Com certeza já se questionou se vale a pena beber leite, ou já ouviu a célebre polémica "os humanos são os únicos animais a beber leite depois da idade adulta"?? Tal como tudo em ciência, existem diversas teorias suportadas por trabalhos científicos, uns mais credíveis que outros. E assim, existem acérrimos defensores do sim (consumir) e do não (não consumir).
O leite de vaca meio-gordo é constituído por 90,2% água, vitaminas e minerais; 4,7% açúcar (lactose); 1,7% gordura e 3,4% proteínas (maioritariamente caseína)

Leite & Saúde

 É certo que o leite “atual” é sujeito a um processamento que o altera face ao “de antigamente”. Desde logo porque tem menos microorganismos (pasteurização/esterilização) e menos gordura! Por outro lado, tem-se alegado que o leite está contaminado com diversos pesticidas e outros agrotóxicos, mas também antibióticos e hormonas em excesso. Estas parecem estar relacionadas com o aumento do risco de alguns cancros (ovário, próstata, mama) e de outras doenças crónicas, segundo alguns estudos (artigo1; artigo2).
 
    Por outro lado, o leite é um alimento completo, que contém uma enorme quantidade de nutrientes essenciais. Vários estudos epidemiológicos demonstraram o efeito benéfico do consumo de leite. Tendo evidenciado um efeito protector contra varias doenças: enfarte agudo do miocárdio, AVC, diabetes, vários cancros, demência.  
Aplicações clínicas de compostos bioativos do leite

Leite & Desporto

 Uma das razões do NÃO prende-se com a população desportista, pela estimulação da insulina.
 
Saiba que: 
Para aumentar o produção de leite, as vacas são medicadas com hormona do crescimento (GH), que prolonga o tempo de lactação. Por sua vez, a mesma GH atua sobre o fígado bovino (entre outros tecidos) estimulando-o a produzir Insulin-like Grow Factor (IGF). Ou seja, o leite contém elevadas concentrações desta hormona, que atua no pâncreas humano e produz insulina! Deste modo, o leite e os seus derivados (com excepção do queijo) desencadeiam respostas insulinémicas rápidas, com as subsequentes descidas de açúcar no sangue (hipoglicémias). 
Estimulação da produção de insulina e de IGF-1 por consumo de leite
Estimulação da produção de insulina e de IGF-1 por consumo de leite

  Mas não é só em desportistas: em diabéticos, diversos cancros e indivíduos que estão a perder peso, esta não é uma situação desejável, já que diminui o rendimento e a capacidade física, estimula a proliferação celular, a conversão de açúcar em gordura e menor degradação de gordura!

Mais! Quando conjugamos leite com açúcar ou hidratos de carbono de absorção rápida (ex. fruta ou cereais açucarados), os processos de digestão e absorção serão ainda mais rápidos, propiciando a formação de reservas de gordura, fome, necessidade de “doce”, sensação de “fraqueza”, etc.

Leite & Alternativas

 Então que alternativas poderíamos ter ao leite? 
Existem outras bebidas, que na realidade são “extratos” de cereais, leguminosas ou oleaginosas (bebida de soja, amêndoa, arroz, aveia). Contudo, estas podem ser muito açucaradas, têm proteínas de baixo valor biológico, pelo que a sua absorção é, também, rápida! Neste caso, não pelo seu efeito estimulador da insulina, mas pelo seu elevado índice glicémico (velocidade a que os açúcares passam para o sangue).Para além disso, questiona-se a biodisponibilidade do cálcio e a quase inexistência de vitamina D. Assim como a contaminação com metais pesados, como o arsénio no caso do “leite” de arroz.

A decisão...

Caso não seja intolerante à lactose, alérgico à proteína do leite de vaca, ou tenha uma doença que o justifique (autoimune, cancro) poderá consumir derivados de leite como o iogurte, queijos brancos e kefir: pelo seu processamento têm menores quantidades de IGF e menor índice glicémico.

 

Quanto à própria bebida, podemos sempre optar por leite do dia, que foi sujeito apenas a pasteurização e não esterilização, conservando alguns probióticos. Ou mesmo por leite “biológico”, cuja marca tenha um selo de garantia (animais não estimulados com hormonas). 

Símbolo alimento biológico na UE
 

    A não ser por razões de saúde/doença, a decisão de (não) consumir leite cabe à preferência/ hábito de cada um. 

    Em vez de “rotular” o leite devemos ponderar se o nosso organismo deveria ser exposto a inúmeros processados que consumimos atualmente (bolachas, doces, embutidos/charcutaria, álcool, refrigerantes, etc). 

     Portanto, cada pessoa deve ponderar o consumo de leite animal ou substitutos vegetais, de acordo com o que SENTE. A alimentação saudável deve ser um objetivo e não um dogma. Devemos sim ser vigilantes, preocupados e, em caso de dúvida, consultar um nutricionista.

 
    Independentemente, das polémicas suscitadas, o leite é um alimento completo e altamente nutritivo. Tem propriedades benéficas comprovadas na prevenção da diabetes, da osteoporose, de diversos cancros e até na perda de peso! Escolha as marcas mais reconhecidas, mesmo que tenha de pagar um pouco mais, ou o leite biológico. Sabemos que questões polémicas existem e existirão acerca de todos os alimentos! O segredo está no equilíbrio e diversificação alimentar. Em caso de dúvida consulte um nutricionista.