
Comportamento Alimentar – O que é?
Como vai caro leitor?
De certo que já reparou que o “comportamento alimentar” é uma das nossa áreas favoritas de intervenção e estudo. Ou seja, a forma como nos relacionamos psicologicamente com a comida. Muitas pessoas têm relações distorcidas com os alimentos, como relações emocionais e de afetividade. Os alimentos tornam-se “um escape” para outras lacunas da vida diária e uma resposta fácil ao stress e ansiedade do dia-a-dia.
Com certeza já ouviu falar de alimentação emocional. Muitos livros têm sido escritos sobre o assunto. Como se trata? com o acompanhamento conjunto do médico, nutricionista e psicólogo.
Contudo, não é de alimentação emocional que escrevemos hoje. É sim de um assunto relacionado…
Restrição alimentar cognitiva
O que é?
Restrição alimentar cognitiva é um termo usado na Psicologia que indica uma “tendência para inibir voluntariamente a ingestão de alimentos e comer menos do que o desejado” para tentar perder ou manter o peso.
Por exemplo, a doença do comportamento alimentar “anorexia nervosa” configura um alto grau de restrição alimentar cognitiva, com um controlo extremamente rígido sobre o consumo de alimentos e sobre a ingestão calórica, o que resulta num índice de massa corporal (IMC) muito abaixo dos valores saudáveis.
Por outro lado, alguns estudos transversais (estudos que identificam associações entre fenómenos, sem indicar causalidade) mostram que existe uma associação positiva entre restrição alimentar e IMC. Ou seja, pessoas com mais peso declaram graus de restrição cognitiva mais elevados. Esta aparente contradição pode ser explicada pelo facto de que pessoas com tendência à obesidade estão mais expostas à discriminação social contra a obesidade e tendem a ter um comportamento alimentar mais restritivo do que as pessoas que não têm tendência à obesidade. Significa que estas pessoas tendem a fazer dietas mais restritivas.
Atualmente, na nossa sociedade, a aparência física é um fator decisivo em muitas ocasiões. Contudo, ainda tende a ser mais importante para mulheres do que para homens, tanto que alguns estudos demonstram uma associação mais forte entre a obesidade e a restrição alimentar cognitiva entre o género feminino.
Como é de esperar, esta luta constante para “comer menos e perder peso” é infrutífera para a maioria das pessoas, consistindo num leque de tentativas vãs, que raramente persistem. Por outras palavras, as pessoas com excesso de peso fazem “mais dietas”, apresentam um grau mais elevado de restrição cognitiva, mas, frequentemente, não conseguem emagrecer.
De facto, sabe-se que uma restrição alimentar intensa e continuada pode alterar o metabolismo, promovendo uma resistência metabólica à perda de peso! Ou mesmo promovendo o aumento da tendência para ganhar peso. Por esse motivo, um padrão restritivo do comportamento alimentar está intimamente relacionado com o excesso de peso e obesidade.
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Para além disso, tem-se demonstrado que um alto grau de restrição cognitiva se associa a episódios de “ingestão descontrolada”, especialmente quando há exposição a determinados fatores psicológicos (stress, depressão) ou ambientais (festas, banquetes, eventos sociais, uso de bebidas alcoólicas). Nestas situações é provável que pessoas com maior grau de restrição “comam demais”, comparativamente a pessoas com menor grau de restrição cognitiva.
Alguns estudos longitudinais (estudos em que um grupo de pessoas são acompanhadas ao longo do tempo) mostram que indivíduos obesos, que seguem uma dieta restritiva, não só não perdem peso ou perdem de uma forma insignificante, como, por vezes, até ganham mais peso do que o inicial, principalmente as mulheres. Em contraponto, estes estudos indicam que indivíduos eutróficos (peso saudável) têm um risco menor de ganhar peso após uma dieta restritiva. Desta forma, pode concluir-se que uma dieta alimentar restritiva parece ser uma estratégia mais adequada no auxilio da manutenção e gestão do peso de pessoas com peso normal, isto é, na gestão de pequenas variações de peso, dentro do que é considerado um IMC saudável.
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Esta incongruência (dietas restritivas são mais eficazes em indivíduos normoponderais) pode ser explicada pelo facto de que existem dois tipos de restrição cognitiva, que afetam o comportamento alimentar de formas distintas.
- O controlo flexível está associado a uma menor ingestão energética, expectativas de perda de peso mais moderadas e realistas e atitudes menos drásticas quanto ao consumo de alimentos.
- O controlo rígido está associado a episódios de perda de controlo sobre o consumo de alimentos (compulsão alimentar), ganho de peso e, geralmente, relaciona-se com problemas psicológicos e ligados ao stress.
Assim, sabe-se que nas alterações do comportamento alimentar, os efeitos nocivos da restrição cognitiva rígida são mediados pela desinibição. Isto é, indivíduos com uma restrição mais rígida tendem a ganhar peso quando a restrição cognitiva é acompanhada de episódios de perda de controlo, como comer muito quando se está nervoso/ ansioso (alimentação ou fome emocional) e por episódios de compulsão alimentar.
Desinibição alimentar
- Um tendência para comer mais do que o necessário;
- Comer em resposta a emoções negativas (como raiva, medo, angústia, stress);
- Comer mais do que o normal em ocasiões sociais;
- Não conseguir “resistir à tentação” de comer muito quando há grande variedade de alimentos ou quando há alimentos muito saborosos (restaurantes, banquetes).

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Neste contexto, a desinibição parece desempenhar um papel essencial entre “a pessoa e o ambiente”, tendo, na sua génese, múltiplos componentes fisiológicos e psicológicos.
Concluindo...

O mais importante é que evite o comportamento “Tudo ou Nada“. Isto é, por nunca se permitir comer um alimento menos saudável, de repente comer demais. Ou ao contrário, por comer uma unidade, achar que “estragou” todo o seu plano, pensando “perdido por 100, perdido por 1000” e comer livremente. Ambos os comportamentos são extremos e devem ser evitados. É no meio que está a virtude.