5 alimentos com venenos naturais!
Como vai caro leitor?
O artigo de hoje pode parecer um pouco surpreendente, mas sabia que podemos encontrar venenos naturais em alimentos que comemos no dia-a-dia? Calma, não fique preocupado. Normalmente encontram-se em quantidades muito pequenas e só se realmente consumir uma dose absurda correrá algum risco de saúde! Ainda assim, vale a pena estar informado!
Estas toxinas naturais de que falamos, são na realidade, defesas das próprias plantas contra fatores ambientais, sejam pestes, calor, frio, ou outra necessidade de “sobrevivência” da espécie. Portanto, já podemos perceber que vamos falar de alimentos que são do reino vegetal:
1. Glicosídeos cianogénicos
Gosta de morder o caroço das ameixas, das maçãs, dos pêssegos ou mesmo das cerejas? Reconhece aquele sabor amargo? Pois
bem, esse é o sabor dos glicosídeos cianogénicos, precursores do cianeto de hidrogénio que é potencialmente letal quando processado pelo corpo humano.
Os sintomas de uma intoxicação por esta substância incluem confusão, vertigem, dor de cabeça e vómitos. Em casos extremos, pode haver dificuldades respiratórias, falência renal e, em caso de não haver tratamento, até a morte.
Mas atenção! Para correr este risco teria que mastigar e comer todas as sementes de 19 a 24 maçãs de uma só vez!
Pode também reconhecer este sabor típico na tradicional Amêndoa Amarga! Mas não mais de 1 cálice ok? 😉
2. Glicoalcaloides (solanina)
A batata é um dos alimentos mais consumidos em todo o mundo. Pela facilidade do seu cultivo, preço e versatilidade culinária é adorada pelos portugueses!
Mas atenção, a batata contém um veneno escondido: os glicoalcaloides – especificamente, a solanina.
Esta é uma toxina natural que atua como pesticida ou fungicida natural no tubérculo, ou seja, uma defesa contra animais, insetos e fungos que possam atacá-lo. Os glicoalcaloides também estão presentes em berinjelas e tomates, apesar de em menor concentração.
A solanina é bastante venenosa em grandes doses. Pode causar desde sintomas gastrointestinais até alucinações, paralisia e até a morte. Porém, não desespere, a concentração deste tóxico numa porção habitual de batata são inofensivas.
Teria que consumir quase 70 tubérculos grandes de uma só vez para ficar envenenado!
Ainda assim, pode ter alguns cuidados para evitar o consumo deste tóxico natural:
- É fácil, se a batata está verde por baixo da casca, recomenda-se que não seja consumida!
- Para que se desenvolva menos solanina, deve guardá-la num local fresco e escuro.
- Salienta-se ainda que esta não é destruída pela cozedura, fritura ou outro processamento
Já encontrou aquela batata frita que tem uma coloração esverdeada? é essa que deve evitar (e todas a outras já que são fritas 😉 )
3. Lectinas
Para os vegetarianos as leguminosas são a principal fonte de proteína.
Feijão, lentilha, grão-de-bico, ervilha, fava, tremoço, amendoim, soja e seus derivados destacam-se pelo seu elevado teor de proteína vegetal, são ricos em fibra e por isso produzem uma sensação de satisfação. Além disso, são uma boa fonte de amido (energético), têm um elevado conteúdo de ferro, ácido fólico e quantidades apreciáveis de magnésio, manganês e antioxidantes.
Porém, elas também contêm lectinas – um grupo de proteínas que se ligam a hidratos de carbono, facto que as torna indigeríveis pelo sistema digestivo humano. Deste modo, é comum produzirmos anticorpos contra elas, ou seja, respostas inflamatórias, com sintomas variados. Os mais comuns são sensação imediata de inchaço e dor de estômago. Mas em intestinos mais sensíveis e síndromes do intestino irrritável podem causar sintomas mais severos como obstipação grave ou diarreia, vómitos e agressão da mucosa intestinal.
Sabe-se que a exposição continuada a estas toxinas, em indivíduos sensíveis e com elevada resposta inflamatória, pode despoletar doenças como artrite, úlceras pépticas, alergias e diabetes. Apesar de, para a maioria de nós, o problema não ir além de uma simples indigestão.
Boas notícias: a lectina é destruída pela demolha, mais cozedura a alta temperatura!
4. Cumarina
A canela é uma das especiarias mais importantes do mundo, pelos seus aromas e flavors. Tem variedades distintas, dependendo de onde é cultivada: a canela do Ceilão, cultivada no Sri Lanka, Madagascar e nas ilhas Seicheles, é conhecida como “canela verdadeira” e é muito cara. Por isso, a maioria da canela vendida na Europa Ocidental e Estados Unidos é uma
variedade mais barata, produzida na China e Indonésia (cassia).
Ambas contêm cumarina, um tóxico para o fígado e que altera a coagulação, mas a variedade mais barata tem bastante mais! Um estudo feito na Alemanha em 2010 descobriu que o pó da canela da China tinha até 63 vezes mais cumarina do que o pó de canela do Ceilão.
Quando em pó são indistinguíveis, mas em “pau” são muito diferentes: as lascas da canela mais barata consistem numa capa grossa enrolada, já as lascas da canela do Ceilão são capas finas.
Ainda assim, as principais autoridades de segurança alimentar consideram seguro o seu consumo dentro da dose diária recomendada. Pode continuar a comer o seu pastel de nata com canela 😉
A dose diária recomendada de canela é de 6g/dia, por um período máximo de 6 semanas. Pode ainda garantir que consome a Canela do Ceilão, praticamente isenta de cumarina.
5. Ácido cianídrico
Existem dois tipos comuns de mandioca: a doce e a brava. A mandioca brava contém ácido cianídrico, um percursor do veneno cianeto, pelo que deve ser exposta ao sol ou cozida, para reduzir o efeito da toxina. É essencialmente usada para a produção de farinha, tapioca e polvilho. Já a mandioca doce, com muito baixa concentração deste ácido (menos de 50mg de HCN/kg de raiz sem casca), é a preferida para a culinária.
As raízes da mandioca brava ou amarga têm sabor amargo, e apresentam um alto teor de ácido cianídrico, acima de 100mg de HCN/kg de raiz sem casca, e só podem ser consumidas após serem processadas na forma de farinha, fécula e outros produtos.
Em conclusão…
Não queremos de todo assustá-lo! Apenas demonstrar que a natureza é “um mundo” e que devemos comer “um pouco de tudo e tudo de nada” 😉 Leia o artigo A diversidade na nutrição é essencial!
Nada em excesso é inócuo, nem a água. Contudo, é muito mais provável obter um efeito adverso pela toma de um extrato de planta, chá, infusão ou de um suplemento alimentar (pela concentração das substâncias), do que pelo consumo de um alimento! Por isso, antes de tomar qualquer suplemento alimentar, seja à base de plantas ou de outro extrato, saiba que ele tem (com certeza) interações com o seu corpo, na maioria das vezes não estudadas (pelo menos naquela fórmula). O que é bom para “um” pode ser “um veneno” para si! Fique atento 😉