12 mitos sobre nutrição e saúde

Caro leitor,

a nutrição é um tema que a todos interessa. Se estiver atento verá que por todo o lado se ouvem conversas sobre alimentos, emagrecimento, dietas da moda, colesterol… A verdade é que nem sempre se “ouvem” e transmitem informações corretas e fiáveis. De facto, de boca em boca ou por um qualquer anúncio de tv se formam constantemente novos mitos em nutrição. 
Hoje vamos falar-lhe sobre alguns mitos comuns quando o tema é nutrição ou alimentação. Muitos outros existirão. Estes são aqueles que nós, particularmente, ouvimos mais:

ERRADO
Este é um mito que já começa a desaparecer. Ainda assim, ainda há muita gente que considera que pode engordar bebendo água. Já anteriormente escrevi um artigo sobre este assunto na revista Prevenir, que agora recordo:

Primeiro, há que esclarecer que a água fornece 0 kcal/100ml, tendo apenas alguns micronutrientes. Portanto, a água nunca engorda, já que é impossível formar gordura a partir dela.

Contudo:
Se beber bastante água (+300ml) junto com alimentos pode dilatar o estômago, dando a sensação de inchaço. Isto porque, como os alimentos exigem digestão e permanecem mais tempo no estômago, juntamente com água, formam um grande volume alimentar.
Por outro lado, se beber demasiada água à refeição, esta vai diluir os nutrientes facilitando a sua digestão e absorção. Um exemplo simples é o caso da água com açúcar: quando nos sentimos mal bebemos uma diluição de açúcar em água e não apenas açúcar isoladamente. O mesmo acontece com os alimentos no estômago, quanto mais diluídos, mais fáceis de absorver. Percebe-se isso facilmente quando comemos um creme de legumes, em vez de um prato com
vegetais inteiros.
Posto isto, o conselho é: Beba água qb à refeição (entre 200 a 300ml).
De facto, beber água à refeição, moderadamente, tem vantagens:

  • Humedece o bolo alimentar, facilitando a sua passagem ao longo do intestino. Portanto, combate a obstipação (prisão de ventre).
  • Juntamente com os alimentos, a água forma um bolo alimentar mais volumoso, dando sinal ao nosso cérebro de que estamos saciados com mais facilidade.

Ainda assim, a ingestão maioritária de água deve ser feita fora das refeições, para que seja rapidamente absorvida e cumpra realmente uma função de hidratação. Deve então ser bebida gradualmente, entre 100 a 200ml de cada vez (pequenos goles), privilegiando a manhã e diminuindo até à noite, para que durma sem interrupções.

ERRADO

   Um dos maiores mitos da alimentação & exercício é a ligação quase automática câimbras = banana!
Aliás muitos médicos o fazem. A pessoa que chega ao consultório queixando-se de câimbras (ou cãibras) sai de lá com uma “prescrição” de bananas (a toda a hora!).
Pois bem, a banana nem é a fruta mais rica em magnésio! Pode ser sim uma fruta mais acessível, mas…. os frutos oleaginosos são muito mais ricos neste mineral!
Ora vejamos, por porção:

  • 90g de banana = 25 mg de magnésio
  • 30g de miolo de noz =48mg de magnésio

E quem diz noz, diz amêndoa, pinhão, caju, avelã, etc etc.
Mais! Em termos nutricionais os frutos oleaginosos são ricos em gorduras insaturadas, que contribuem para a regulação do colesterol do sangue, para o controlo do apetite, entre outras funções. Já a banana é rica em açúcar de absorção rápida (cerca de 20g/100g de alimento). Isto pode ser benéfico para desportistas e crianças, mas de certo que não o é para a maioria da população.
Não quero com isto dizer que deve evitar comer banana, deve sim comer com moderação. E se tem câimbras não hesite em comer nozes em vez de banana! 

 
ERRADO  
Esta deve ser a “junk food” mais abundante nos armários dos portugueses, disfarçado de “alimento saudável”. Tremo quando vejo planos cheios de bolachas de manhã, à tarde e à noite.
Os meus pacientes sabem desde a 1ª consulta que estas estão na lista dos “alimentos a evitar”. Vejamos porquê:
As bolachas não são mais do que produtos de pastelaria. Isso mesmo! Não são produtos de panificação (pão). Infelizmente ensinam-nos na faculdade que comer pão ou bolachas é equivalente. Mas como pode ser?? Por exemplo:
  •   1 fatia de pão integral de centeio tem farinha de centeio integral, fermento, água e sal (pouco). Pesa aproximadamente 40g, tem 80kcal, das quais 3g proteína; 0,8g gordura; 16,5g hidratos de carbono; 0,6g de açúcar; 2,8g fibra.
  • 1 bolacha Maria tem farinha de trigo, margarina, açúcar, sal, fermento e aditivos vastos. Pesa 5g e tem 22kcal; 0,4g proteína; 0,6g gordura; 3,6g hidratos de carbono; 1g açúcar;0,1g fibra.
  • Para equivaler a 1 fatia de pão têm-se 4 bolachas, ou seja, 88kcal; 1,6g proteína; 2,4g gordura; 14,4g de hidratos de carbono; 4g açúcar; 0,4g de fibra.
    Ou seja: uma mistura de açúcar e farinha refinada, cheia de gordura e sem fibra.
Em termos práticos as bolachas são compostas por ingredientes de má qualidade nutricional que facilitam a sua rápida digestão e absorção = ENGORDAR
Já o pão integral é uma mistura equilibrada de hidratos de carbono, proteínas e fibras. Saciante e de lenta absorção.
NOTA: existem milhares de tipos de bolachas, mas com todas se chega a conclusões semelhantes da famosa (supostamente inofensiva) “Maria”. Não acredite nas designações “sem açúcar”, “rico em fibra”, etc, todas são más opções nutricionais e ENGORDAM. Deixam-nos ainda com mais fome.
As pessoas tendem a associar “pão=engordar” e inundam-se de bolachas… Livre-se delas, pois pela sua textura crocante torna-se díficil parar de as comer, e quando vemos… não comemos 4 mas meio pacote (20).
Não as dê aos seus filhos: mesmo em crescimento, ninguém merece comer um cocktail de açúcar e gordura saturada e hidrogenada. Escolha pão, pela sua saúde e pela sua “linha”!

DEPENDE
    Tudo engorda se não for comido com moderação.
É falso dizer que o pão engorda e que quem está a perder peso não o deve comer.
Este alimento fornece cerca de 250 kcal/100 g e, como qualquer alimento, deve ser comido com moderação.
O grande problema não é o pão por si só, mas sim o que lhe juntamos. Para se ter uma ideia… 10g de manteiga têm aproximadamente 90 kcal.
Também não é verdade que o pão integral engorde menos que o pão branco, pois fornece sensivelmente as mesmas calorias. Mas o pão integral (ou mistura, centeio, 7 cereais) é nutricionalmente mais rico do que o pão branco, fornecendo vitaminas, minerais e fibra alimentar que, conforme referido, são nutrientes fundamentais na nossa alimentação.
Assim quando escolhe pão deve ter em conta o tipo de farinha (cereais, integral, sementes, aveia, centeio), bem como a quantidade de fermento (escolher pão com menos fermento). Estes são normalmente pães com miolo mais denso e para comer fatiado.
Evite os pães muito processados, com tempo de prateleira elevado, pois contêm gordura, açúcar e muitos aditivos alimentares (E’s). Se tiver dúvidas leia a lista dos ingredientes.
Interessa também o que acompanha o pão. Evite gorduras como manteiga, margarina, queijos e também doces, marmelada, compotas…
Para acompanhar o pão prefira charcutaria de aves, cremes de queijo para barrar (tipo Philadelphia), queijo fresco, ovo e vegetais à vontade!
Deve comer entre 2 a 4 fatias de pão por dia dependendo do seu gasto energético e peso corporal.

Artigo sugerido: O pão engorda?

ERRADO

   Muitas pessoas chegam à consulta dizendo que em vez de doces, vão petiscando fruta ao longo do dia, pensando que estão a contribuir para a perda de peso. 
     É verdade que comparativamente a um doce, que para além de açúcar tem gorduras e aditivos, a fruta tem a seu favor fibras, vitaminas, minerais e fitonutrientes.
Contudo, as propriedades boas da fruta não “apagam” o seu açúcar, devendo sempre ser comida com moderação, especialmente fora das refeições principais.
Outro mito é que a fruta tem um açúcar chamado frutose e que este não faz mal à saúde. Atualmente existem estudos que demonstram que a frutose em excesso, para além de engordar tanto como outros açúcares, tem diversos inconvenientes para a saúde (especialmente dos diabéticos).
De facto, a fruta não tem só frutose! Tem glicose e sacarose (açúcar do café) e às vezes em maior quantidade que a própria frutose. Portanto comprar
produtos com frutose em vez de sacarose não é benéfico, nem para o peso, nem para a saúde. Prefira alimentos com baixo teor de açúcar seja ele qual for.
Um adulto saudável deve comer entre 2 a 3 porções de fruta/ dia.
Em casos de perda de peso esta recomendação é menor e variável.
Valorize o açúcar da fruta! Este engorda tanto como outro açúcar qualquer: 1g de açúcar = 4kcal.
Ainda assim, há frutas com concentrações diferentes de açúcar e cuja absorção do mesmo pode ser mais rápida ou lenta (conceito de índice glicémico-IG). Deve escolher as frutas com menos açúcar e de menor índice glicémico.
Veja a tabela e surpreenda-se como há frutas que parecem inofensivas mas têm um IG elevado (+60 ex melancia, abacaxi). E confirme o que é considerado 1 porção de fruta!

Artigo sugerido: O que deve saber sobre: Fruta

ERRADO
   Será que a distribuição da gordura corporal é indiferente para a saúde? Não.
Atualmente diferencia-se a obesidade em andróide (abdominal) e ginóide (quadril).
A gordura abdominal/ visceral é um fator de risco acrescido para a saúde, pois produz hormonas e outras substância pró-inflamatórias e que aumentam o risco de doença cardiovascular (AVC).


Esta pode localizar-se a nível subcutâneo (barriga mole) ou intra-abdominal (barriga dura), sendo a última mais perigosa para a saúde!

     Já a gordura do quadril (perna e anca) é considerada protetora, pois produz hormonas e outras substancias anti-inflamatórias, que promovem o controlo do apetite, uma menor insulinoresistência e proteção cardiovascular.
Para saber qual o seu tipo de distribuição de gordura e assim o seu risco cardiovascular, meça o perímetro abdominal:

  • Passe uma fita métrica à volta do ponto entre a última costela e a crista ilíaca/topo da anca 

Para mulheres recomenda-se até 80cm e para homens até 94cm.
 
Artigo sugerido: Gorduras para emagrecer

ERRADO  

   Tomar um suplemento alimentar não é a mesma coisa que beber água. Os suplementos, sejam extratos naturais de plantas ou substancias isoladas, interagem com o nosso organismo, com a medicação, com a alimentação e até mesmo entre eles.
Não podemos esquecer que a farmacologia teve a sua génese no uso de plantas e substancias naturais. Ainda hoje se usam chás e infusões no tratamento de problemas de saúde (ex constipação, infecção urinária, pedra nos rins, etc).
De facto, “tudo o que é demais, é conta errada”. Portanto, antes de tomar seja o que for fale com um profissional de saúde. Não se limite a ser aconselhado por um lojista, já que os suplementos são de venda livre (farmácias, dietéticas, ginásios, spas, supermercados, etc). Mesmo assim, esteja atento aos sinais do seu organismo, pois qualquer substancia pode ter uma reacção inesperada no nosso corpo.
Vou dar um exemplo clássico:
As gordura ómega-3. Conhecidas pelo seu potencial hipo-tensor, hipo-colesterolemiante, anti-inflamatório, protetor do sistema nervoso, do coração e da pele, etc… Este bem-feitor interage com medicamentos coagulantes. E em pessoas saudáveis, quando em excesso, dificulta a coagulação e a cicatrização (efeito pró hemorrágico).
«O uso apropriado de alguns suplementos é perfeitamente seguro e pode trazer benefícios, mas o seu uso indiscriminado ou excessivo pode ser perigoso. Importa assim concluir que apenas os suplementos com eficácia bem estabelecida devem ser prescritos e que a legislação aplicável aos suplementos pode, nalguns casos, não ser suficiente.» In Alimentação Humana; Durao CR 2008.
Para saber mais sobre suplementos alimentares leia atentamente este artigo.

ERRADO 
Esta é uma dúvida frequente. Quem nunca viu pessoas enroladas em película aderente ou muito agasalhados para transpirar!
De facto a água tem “peso”. Perdendo água perde-se peso, mas peso em água e não em gordura. Quando se hidratar esse peso volta.
Muito pelo contrário, o aquecimento excessivo do organismo prejudica o gasto de gordura! É verdade! Pois, o nosso corpo para se defender abranda o ritmo cardíaco e respiratório por forma a reduzir o metabolismo celular e favorecer o arrefecimento.
Mais! A desidratação vem antes da sede, ou seja, ao sentir sede já está desidratado e, desta forma, piora o desempenho físico. Esta é a razão pela qual não podemos esperar a manifestação da sede para beber.
Durante a prática de exercício, mesmo um grau leve de desidratação como 1%, 2% ou 3% do peso corporal podem prejudicar o desempenho físico. Já a perda excessiva de 5% do peso corporal pode reduzir a capacidade de esforço em aproximadamente 30%. Na prática, isto significa uma redução na qualidade dos treinos. A desidratação severa (redução de 10% do peso corporal) pode ser fatal, uma vez que o exercício nestas condições provoca a rápida elevação da temperatura do corpo e pode despoletar complicações metabólicas e cardíacas.
Enfim, já que o emagrecimento não acontece com a sudorese, pratique exercício com roupas leves para favorecer a sua performance. E não se esqueça de ingerir líquidos antes, durante e após o exercício físico. 

 DEPENDE.
   Com a chegada dos longos dias de praia as pessoas tendem a “facilitar” levando várias sanduiches para ir comendo… tradicionalmente de manteiga, queijo e/ ou fiambre.
Pois bem, primeiro que tudo: por estarmos na praia, ou num ambiente diferente do dia-a-dia, não significa que tenhamos de comer mais do que o costume. Pelo contrário até podem ser dias em que estamos mais parados (deitados na toalha).
Assim, recomendo que ao longo do dia diversifique a sua alimentação, levando:

  • 1 a 2 porções de fruta;
  • vegetais crus (ex. cenoura)
  • 1 a 2 iogurtes/ queijinhos magros
  • 1 sanduiche ou wrap completo: com vegetais, carne, peixe e/ou ovo.
  • E claro água (evite os sumos pelo conteúdo em açúcar de absorção rápida)!

Divida os alimentos ao longo do dia, evitando passar muitas horas sem comer, para que não “acumule” fome e se sinta saciado com pequenas porções. O segredo está
na divisão: comer pouco mas muitas vezes.
Evite os alimentos calóricos e fáceis de consumir: bolachas, batatas fritas e outros snacks hipercalóricos.

Artigo sugerido: Refeições para praia

DEPENDE.

Mas é mais saudável. Vejamos, as principais diferenças nutricionais são:

Batata comum crua X batata doce crua
Energia: 89kcal x 119kcal
Hidratos de carbono totais: 19,2g x 28,3g
Dos quais açúcares: 1,2g x 7,9g
Proteínas: 2,5g vs 1,0g
Gordura: 0g
Fibra: 1,6g x 2,7g

Percebe-se que a batata doce tem mais calorias à custa de ter mais açúcares (sabor doce).
Contudo, esta é nutricionalmente mais saudável! É rica em beta-caroteno (pigmento laranja), antioxidantes, vitamina C e B6, manganésio, ferro, cobre e potássio! É ainda rica numa fibra chamada inulina, cujos benefícios ao nível imunitário e da prevenção da neoplasia do cólon está demonstrada.
Os principais benefícios para a saúde da batata doce são:
● Obesidade
● Aterosclerose
● Falta de Irrigação Sanguínea
● Hipertensão Arterial
● Aumento das Necessidades Energéticas (ex: idosos, grávidas, desportistas)

   Assim sendo, para quem está a perder peso todo o tipo de batata deve ser consumido com moderação.
Sem ser nesta situação específica deve integrar na sua alimentação a batata doce sempre que possível! Os seus benefícios para a saúde são inequívocos! Cozida, assada, estufada… a escolha é sua.

Artigo sugerido: Batata doce para o lanche?

ERRADO

A resposta é NÃO. Estes práticos snacks têm alta densidade energética, ou seja, em cerca de 20g fornecem entre 70 a 100kcal. Principalmente calorias de açúcar!
As barras de cereais têm cerca de 70-80% hidratos de carbono, 5-10% gordura, 2-5% proteína e espante-se apenas 1 a 2% fibra! Pois é, uma das alegações mais comuns destes snacks são o seu teor de fibra, mas onde está ela? é por razões como esta que não deve acreditar na publicidade alimentar.
Para além disso, estes alimentos têm um alto teor de sódio (sal) e de açúcar. Ou seja, têm uma alto índice glicémico. Em termos práticos isto quer dizer que são rapidamente digeridas e absorvidas (fome).
Em vez de barras de cereais opte por fruta fresca com casca. Também é prática e muito mais saudável.

Leia Receita da Semana: Barras caseiras

ERRADO

   Pense bem… se um simples chá emagrecesse haveria tanta obesidade no mundo?
   A única propriedade cientificamente comprovada do chá verde é a sua capacidade antioxidante, principalmente a nível da protecção cardiovascular. 
   De facto o chá verde aumenta o ritmo cardíaco e pode-se considerar um termogénico (substância que aumenta o gasto energético celular). Contudo, este aumento é residual e não observado em todas as pessoas, com a mesma dose de chá. 
   Por outro lado, o chá verde tem o seu “lado negro”, ou seja, os seus efeitos secundários. Pode ser causador de taquicardia, insónia, ansiedade, irritação da mucosa gástrica, pode interagir com medicamentos, causar hipertensão e provocar retenção de líquidos. Lembre-se que chá não é água. Veja o artigo sobre chás.