Psicologia do emagrecimento (parte II)

   Como vai caro leitor?

     Depois de na parte I termos alertado para a importância do equilíbrio psicológico (ou do seu restauro) para o sucesso do emagrecimento, hoje vamos aprofundar algumas questões subjacentes a esse equilíbrio:

Relação entre as emoções e a alimentação

Comece por se questionar: como estão suas emoções? Leva-as para o prato? 

A compulsão por comida motivada por razões emocionais é a segunda maior causa de obesidade no mundo. Muitas vezes as pessoas comem porque se sentem entediadas, sozinhas, infelizes, tristes, cansadas, frustradas,…, ou por qualquer outro motivo que não esteja diretamente relacionado com a necessidade física de comer. Esta alteração dos padrões de comportamento alimentar designa-se por alimentação emocional“.

    Na génese da alimentação emocional encontram-se os problemas afetivos de vária ordem: perdas, deceções, frustrações, necessidade de agradar ou ser aceite, rejeição, rompimentos, luto, etc. Estes podem favorecer a alteração do comportamento alimentar, levando o indivíduo a comer demais ou até compulsivamente. O alimento, neste contexto, funciona como um substituto do afeto perdido. Aquele bolo de chocolate ou prato calórico tornam-se “um carinho” do “eu para o eu”. 

Relação entre a mente e a alimentação

Contudo, esta substituição do afeto pela comida é “um engano”, pois, normalmente, gera mais sentimentos de culpa, arrependimento, frustração, isolamento, tristeza. O efeito calmante e reconfortante do açúcar é explicado pela estimulação da produção de dopamina e serotonina (hormonas do prazer). Leia mais nesta artigo do Jornal Público. O problema é que esta sensação é transitória, e quando “acaba” leva a sentimentos contrários como tristeza, ansiedade, sintomas depressivos e vontade de voltar a consumir mais açúcar. 

    Existem alguns estudos que comparam o efeito do açúcar ao da cocaína ao nível do cérebro, pelo seu efeito aditivo. Portanto, para além de uma “dependência psicológica”, pela procura do prazer e do conforto em oposição às emoções negativas de base, gera-se uma “dependência física”.

    De facto, a relação emoção-alimentação torna-se um verdadeiro condicionamento psicológico, que pode vir logo desde a infância, por exemplo: quando um bebé chora é-lhe oferecida a mama ou o biberão. Ele pode chorar devido a vários fatores: fome, frio, calor, sono, dor, entre outras causas. Porém, uma das primeiras soluções oferecidas para ultrapassar o sentimento desagradável é a comida. Deste modo, os alimentos vão-se se tornando “o nosso primeiro antidepressivo ou ansiolítico”, pois associamos, inconscientemente, a alimentação a uma estratégia para lidar com sensações desagradáveis, ou seja, com as primeiras frustrações.

Mais tarde, quando as frustrações afetivas ocorrem, algumas pessoas, diante da impossibilidade de saber lidar com a situação ou de “anestesiar” o mal estar interno, poderão reativar esse antigo esquema: comida = bem estar. Dependendo do contexto em que isto ocorra, o cérebro cria outras funções para o alimento que não só a de objeto de nutrição. O alimento passa a ter uma função afetiva: pode significar amor, afeto, carinho, tornando-se “uma bengala afetiva”. Ou seja, deixa-se de “comer para viver e passa-se a viver para comer”.

     É inegável que a alimentação é, para muitos de nós, um poderoso objeto de redução de ansiedade. Quem nunca se sentou num restaurante após um dia complicado ou após uma discussão e pediu um prato bem calórico e disse: Hoje eu “mereço” comer bife com batatas fritas, uma pizza, um bolo? O único problema é se esse falso “merecimento” ou “afeto disfarçado de comida”, se torna uma constante, pondo em risco a nossa saúde física e mental.

    São várias as necessidades determinadas pelo corpo, tais como: sono, sede, fome, etc. Mas quem determina quando e como satisfazê-las é o cérebro. Exemplificando, o corpo necessita de alimentos, mas quem escolhe quais os alimentos a ingerir é o cérebro.
   Se o caro leitor(a) que está neste momento a ler este artigo tem excesso de peso, o problema pode residir apenas na sua atual programação mental. Não há “dieta da moda”, “medicamento/ suplemento” ou “livro” que possa mudar isso. A única maneira de emagrecer e não voltar a engordar é modificar, de vez, no seu inconsciente, a sua relação com a comida.

O cérebro é como um computador, os comportamentos são como softwares. Isto é, pode ter desenvolvido um software ineficaz sobre o ato de se alimentar. A boa notícia é que, depois de aprender a reprogramar a sua mente, não terá dificuldade em adquirir novos hábitos de pensamento e atitudes que garantirão o seu sucesso no que toca a seguir um estilo de vida saudável e equilibrado.
    Mas atenção, é praticamente impossível abandonar um hábito apenas com a força de vontade. É preciso reprogramar a mente, isto é, dissociar a alimentação do afeto. 
   
    Outra questão, a imaginação! Esta é uma arma poderosa e os profissionais do marketing sabem disso. Por exemplo: quando lê um menu, prova mentalmente os alimentos antes de decidir o que irá pedir. É por isso que os grandes restaurantes se empenham em descrever os pratos com termos apetitosos e chamativos.
   

Qual o prato que escolheria neste menu?

  • Suculentas fatias de salmão ligeiramente fumadas e aromatizadas ao endro, com molho de alcaparras e risoto ao funghi?
  • Ou peixe assado com arroz de cogumelos?
 

    O assunto é muito vasto, mas na verdade a psicologia é a solução no que toca à mudança de comportamentos compulsivos ou distorcidos, propondo uma reprogramação mental do binómio “alimento x emoção”.

Não se iluda! Há uma forte relação entre emagrecimento e autoestima. É preciso mudar algo mais que o peso para emagrecer e se manter saudável: A mente!


   Se não fizer nada em relação à ansiedade, ao vazio existencial, aos sentimentos de rejeição e abandono, à depressão, raiva reprimida, …, continuará a ter um campo fértil para a auto sabotagem, sendo muito difícil seguir um plano alimentar, de exercício ou outro. Primeiro a mente.

 

Pelo que escrevemos até agora, a psicologia é um tratamento complementar ao tratamento médico-nutricional. É fundamental que recorra à ajuda de um psicólogo que conheça bem a área do emagrecimento e dos transtornos alimentares, procurando identificar as emoções e mecanismos que nem a medicina nem a nutrição trabalham. Isto é, identificar e trabalhar a razão dos comportamentos alimentares distorcidos que comprometem os seus esforços para controlar a sua alimentação.
    A duração da terapia é variável. Alguns fatores são fundamentais, tais como: a relação psicólogo-paciente; o seu empenho e perseverança na meta de emagrecer. 
    Pelo contrário, se faz parte daquele grupo que acha que a psicologia é para loucos ou é perda de tempo, então pondere algumas questões: 

  • Há quanto tempo está a engordar? 
  • Qual o grau de sofrimento que o excesso de peso lhe traz?
  • Quais as desvantagens para a saúde que essa condição lhe traz? quais os riscos?
  • Como isso está a afetar a sua vida social, especialmente, a relação com o outro?

      

Lembre-se: 

  • Não se cura ansiedade e tristeza com comida! 
  • O emagrecimento deve vir de dentro para fora! 
  • Trate do seu corpo com respeito e carinho!

 «Nós precisamos de ser felizes para emagrecer e não de emagrecer para sermos felizes»

Diário de uma Dietista

Este artigo é uma chamada de atenção, um alerta, um “mind shake”, para que reflita… Se já tentou várias vezes perder peso, várias abordagens, e… ou desiste, ou recupera o peso, então o que se passa consigo? Se o seu corpo está bem, provavelmente a sua mente não está.

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