A gordura escondida
Em virtude de Maio ser o “Mês do Coração” continuemos a falar sobre a gestão dos fatores de risco mutáveis/ controláveis de doença cardiovascular. A dieta, nomeadamente, o excesso de gordura, é um deles, contribuindo para a obstrução das artérias. Também chamadas de lípidos, as gorduras são um dos nutrientes que mais “preocupa” a saúde pública, principalmente, por estarem relacionadas com as doenças coronárias e cardiovasculares.
No artigo anterior Saiba tudo sobre Colesterol descreveram-se as diferenças entre os vários tipos de gordura, as suas principais fontes alimentares e os seus efeitos na saúde. Contudo, existem gorduras escondidas em vários alimentos ou refeições, que contribuem cada vez mais para o aumento do consumo de gordura diária sem que o consumidor se aperceba.
Quando questionadas sobre o consumo de gordura, a maioria das pessoas tem uma noção geral das principais fontes no seu dia-a-dia, referindo “as frituras e os molhos, “os queijos e as manteigas”, “os enchidos e as carnes vermelhas”. Mas não são apenas estes, muito pelo contrário.
Atente na seguinte tabela que indica a percentagem de gordura encontrada nos alimentos:
De certo que a tabela anterior lhe proporcionou algumas surpresas. Contudo, estes são valores em percentagem, ou seja, por 100gramas (g) ou 100mililitros (ml) de alimentos/ bebida, pelo que quando se contabiliza a gordura de uma refeição deve ter em conta o peso do alimento. Vejamos alguns exemplos de pratos típicos:
1) Bitoque: 200g bife de vaca frito em azeite (23g gordura) + 1 ovo estrelado em azeite (8g gordura) + 100g batata frita caseira em palitos (10g gordura) + 200g salada de tomate, alface e cenoura (0g gordura) + 1 colher de sopa de azeite (15g gordura) = 56gde gordura total.
2) Bacalhau no forno com batatas: 200g bacalhau assado no forno com azeite (10g gordura) + 150g batata assada no forno (7g gordura) + 250g brócolos (0g gordura) + 1 colher de sopa de azeite com alho (15g gordura) = 32ggordura total.
3) Salmão grelhado com arroz tomate: 150g salmão grelhado (36g gordura); 100g arroz de tomate (4g gordura) + salada de pimentos (0g gordura) com azeite (10g gordura) + 80g de mousse de chocolate (10g) = 60g gordura total.
Com estes exemplos pretende-se demonstrar que para calcular a quantidade de gordura de uma refeição deve ter-se em conta não só a gordura natural do alimento, mas também a gordura da confeção e a gordura do tempero. Veja-se como 150g de salmão grelhado (36g) tem mais gordura do que 200g de bife de vaca frito em azeite (23g) e mais do triplo da gordura de 1 porção média de batatas fritas caseiras (10g) que, por sua vez, tem a mesma gordura que 1 taça de mousse de chocolate (10g) e de uma colher de sobremesa de azeite (10g). Tudo isto tendo em conta uma única refeição! Para se fazer uma melhor interpretação destes valores resta acrescentar que num dia, um adulto saudável deve ingerir no máximo 30% das suas necessidades energéticas em gordura, ou seja, cerca de 60g. Assim sendo, através do exemplo 3) consome-se numa única refeição toda a gordura que se deveria ingerir num dia!
Porém, deve ainda considerar-se o tipo de gordura do alimento ou refeição, pois, apesar do salmão grelhado ter mais gordura total do que o bife de vaca em azeite, os tipos de gordura são muito distintos:
Salmão grelhado – 6g gordura saturada e 30g gordura insaturada;
Bife de vaca frito em azeite – 12g gordura saturada e 11 de insaturada.
Ou seja, o bife tem duas vezes mais gordura saturada (prejudicial à saúde) do que o salmão, que é rico em gorduras insaturadas que ajudam a manter a saúde cardiovascular. Todos estes fatores devem ser ponderados em conjunto de forma a não se ingerir mais gordura do que a necessária ao equilíbrio nutricional, privilegiando-se as gorduras saudáveis.
Em Maio continue a proteger o seu coração e não se esqueça que as gorduras estão escondidas em quase todos os alimentos, para as descobrir leia a informação nutricional!