Gravidez – Mês 9
Como vai cara leitora?
Chegámos ao último capítulo desta história! Como foi possível passar tão rápido?
Gravidez: Mês 1
Gravidez: Mês 2
Gravidez: Mês 3
Gravidez: Mês 4
Gravidez: Mês 5
Gravidez: Mês 6
Gravidez: Mês 7
Gravidez: Mês 8
O 9º e último mês da gravidez inicia-se com a semana 36 e é suposto terminar pelas 40 ou 41 semanas. Atualmente, quando se ultrapassa este tempo, os médicos tendem a induzir o parto, por haver riscos para o bebé e para a mãe.
Como dissemos na publicação do 8º mês, a partir das 37 semanas considera-se que a gravidez é “de termo”, portanto, o bebé já não é prematuro e pode nascer a qualquer momento. Portanto, sabemos quando começa o 9º mês, mas nunca sabemos quando acaba 😉
Em termos fisiológicos, nestas semanas, o bebé está ocupado a desenvolver os reflexos de sucção (para mamar), a respiração e a engordar (estima-se que ganhem cerca de 30g/dia). Este ganho de peso acelerado nas últimas semanas é essencial para a adaptação à vida extra-uterina, para que assim consiga regular a temperatura corporal. Estima-se que o “feto de termo” tenha entre 2500g a 3500g e entre 47cm a 51cm. Tudo depende de fatores genéticos (herdados dos pais) e ambientais (da alimentação e saúde da mãe). Contudo, existem bebés que ultrapassam os 4,5kg! Estes são considerados “GIG – Grandes para a idade gestacional”, peso acima do percentil 90, sendo habitualmente resultado de uma gravidez com diabetes. Atualmente sabe-se que, para além dos riscos à nascença, estas crianças terão uma maior probabilidade de desenvolver diabetes e obesidade na idade adulta. Pode ainda dar-se o caso contrário, os “PIG – Pequenos para a idade gestacional”, cujo peso é inferior ao percentil 10 ou 2500g. Estes resultam de incompetência placentária (chegada insuficiente de nutrientes ao feto), de desnutrição ou doença materna (hipertensão, diabetes, doença oncológica, autoimune ou renal), de determinados vírus (ex. toxoplasmose, rubéola ou zika) ou de dependência materna (ex. álcool, tabagismo e drogas).
É também para vigiar a evolução do peso, que nas últimas semanas de gravidez, será vigiada semanalmente (ou quinzenalmente), através de ecografia e de CTG:
Objetivos da ecografia no 9ºmês de gravidez
- Avaliação da vitalidade, crescimento e bem-estar fetal
- Deteção de anomalias tardias decorrentes do desenvolvimento
- Determinação da posição fetal (pélvico, cefálico, transverso) e grau de “encaixe” na bacia
- Vigilância do líquido amniótico (muito ou pouco líquido poderão ter riscos para o bebé)
Objetivos do CTG – Cardiotocografia
A cardiotocografia (CTG) é um exame que avalia o bem-estar fetal e costuma ser realizado no final da gestação, a partir das 37 semanas, ou das 32 em caso de gravidez de risco ou de contrações. Além de verificar se o bebé está bem, também avalia a periodicidade das contrações e assim o início do trabalho de parto.
O exame monitoriza a frequência cardíaca fetal durante um dado intervalo de tempo, normalmente por volta de 10 a 20 minutos.
Para a frequência cardíaca do bebé estar dentro da normalidade, muitas estruturas têm de funcionar perfeitamente (sistema nervoso central, sistema cardiovascular, reservas de oxigénio) e, por isso, considera-se que o CTG consegue fazer uma avaliação ampla da vitalidade fetal.
O exame é feito com a grávida sentada ou deitada, em repouso. São colocados dois cintos elásticos com sensores na barriga: um para captar os batimentos cardíacos fetais e outro para captar a frequência e a intensidade das contrações uterinas. Os dados obtidos pelos sensores são transmitidos para um papel ou monitor de computador, que registam a informação em forma de gráfico. Pode-se pedir à grávida que carregue num botão cada vez que sentir um movimento do bebé. O exame é absolutamente indolor.
Pesquisa de streptococcus B na gravidez
O streptococcus do grupo B é um tipo de bactéria que faz parte da flora intestinal. Contudo, pode colonizar a zona da vagina e daí ocorrer o risco de transmissão ao bebé durante o parto, cujo sistema imunitário ainda é vulnerável.
O exame é simples: faz-se a colheita de amostras da zona da vagina e do ânus, com um cotonete, entre a 35ª e a 37ª semana de gestação. Caso seja positivo, irá fazer uma toma de antibiótico perto da data do nascimento, ou pelo menos quatro horas antes do parto.
O peso materno no final da gravidez
Estamos no final deste percurso! Como tal já deve estar cansada de carregar consigo o peso acumulado nos últimos meses. Seja “muito ou pouco” relativamente ao peso inicial, este é “um peso diferente”. Não é como engordar “uns quilos”, pois não se trata de gordura e não se distribui ao longo de todo o corpo. Na realidade é muito localizado e baseia-se em líquidos e novos tecidos. Daí, o(s) incómodo(s) decorrente ser diferente:
- Dores localizadas (bacia, costas, pernas, articulações, pés)
- Dormência das mãos e pés
- Falta de ar
- Gases, azia, cólicas, prisão de ventre
- Urgência urinária
- Dores de cabeça
- Retenção de líquidos (inchaço) nos membros, mas também na face
- Enfim… se está a pensar engravidar ou no início, deve estar entusiasmada ao ler isto 😉
Alimentação e Suplementação
Por esta fase estima-se que o corpo da mulher esteja a gastar mais 300kcal/dia para suprir as necessidades do feto. Contudo, não é necessário comer muito mais! Isto equivale a ingerir um copo de leite magro, uma fatia de pão integral com manteiga magra e uma maçã (280kcal). Ou se preferir 2 bolas de gelado OU 1 pastel de nata 😉 (não são os nutrientes ideais).
Basicamente, deverá ter uma alimentação equilibrada, fracionada em vários lanches, no máximo de 3 em 3 horas. Baseie estas pequenas refeições em alimentos nutritivos e saciantes – Inspire-se no artigo Lanches Saudáveis. Estas 300 calorias extra devem ser dispersas ao longo do dia, não ao jantar ou ao deitar.
Não se esqueça da água (evite chá e café), garantindo mais de 1,5l diário, para manter o líquido amniótico saudável e controlar o inchaço.
Muito importante: lembra-se de termos falado de toxoplasmose e de segurança alimentar no mês 1? Pois bem, se não era imune, é bom que continue a não ser, significa que não foi infetada durante a gravidez. Para isso é fundamental que continue a ter os mesmos cuidados de higiene e confeção dos alimentos. Sabe-se que a maior percentagem de infeção por toxoplasma durante a gravidez dá-se justamente no 3º trimestre, ou seja, parece que as mães tendem a “relaxar” os seus cuidados mais para o final. Não se esqueça que continua grávida e que o seu bebé continua muito vulnerável, cuide-se até ao fim!
Quanto à suplementação: nesta fase deve manter o seu multivitamínico da gravidez – usei sempre o natalben supra, que aproveito para lamentar o seu PVP 20,10€ não comparticipado, é “um luxo” para o nosso bebé podermos fazê-lo. Assim como algum extra (ex. ferro, magnésio). O magnésio, que inibe as contrações, pode ser suspenso a qualquer momento pelo seu médico, para não comprometer o trabalho de parto.
O Parto
Depois de passar meses a pensar no seu bebé, o momento mais aguardado aproxima-se – o nascimento. Tudo seria ótimo se não tivéssemos de passar pelo temido “trabalho de parto”. Aprendi, durante as aulas com a enfermeira especialista no Centro Pré e Pós Parto, que este se divide em 3 fases (cada uma mais agradável que a próxima):
A primeira fase do trabalho de parto é a de dilatação, caracterizada pelo “apagamento” do colo do útero e abertura do canal de parto. O trabalho de parto começa quando existem 3cm de dilatação e considera-se completa com 10cm. Esta fase é dividida em latente e ativa, podendo demorar de 12 a 16 horas, período em que a mulher poderá sentir dores devido às contrações, cada vez mais regulares e próximas. 2ª Fase – Expulsão: Nascimento O seguimento da fase ativa do trabalho de parto dá-se pela fase de expulsão, em que o colo do útero já atingiu a dilatação máxima e se inicia a fase do período expulsivo, que pode demorar até 3 horas. Nesse momento, a mulher deve começar a fazer força para a descida da apresentação fetal. Para facilitar o nascimento, pode ser necessário fazer um pequeno corte no períneo, que é o espaço entre a vagina e o ânus, para facilitar a saída do feto (episiotomia). 3ª Fase – Dequitadura: Saída da placenta A fase da dequitadura é a fase 3 do trabalho de parto e ocorre depois do nascimento do bebé, sendo caracterizada pela saída da placenta, que pode sair espontaneamente ou ser retirada pelo médico.
Bem… também pode não ser nada assim e em vez de um parto “normal” (eutócico), ter uma parto por cesariana. Existem mulheres que nem admitem outra opção e até pagam por ela. Por favor informe-se com o seu médico ou num curso de preparação para o parto sobre os prós e contras desta intervenção cirúrgica. Com toda a informação que recolhi, com certeza, prefiro um parto “normal”, mas nestes assuntos só o tempo o dirá.
A minha gravidez – balanço
Como nutricionista tenho acompanhado diversas pacientes grávidas, ou seja, não só a vertente nutricional, mas toda a parte médica e emocional. Por isso, apesar de ser a minha primeira gravidez, considerava-me preparada para o que aí vinha.
Posso dizer que tive uma gravidez calma, com algumas preocupações, alguns sintomas desagradáveis (os mais comuns), mas tudo dentro do “normal”. Apesar de ainda não ter chegado ao fim, posso dizer que, no total, devo aumentar cerca de 14kg, o desejável para uma gestação que começou com um peso adequado à altura. Destes 14kg, alguns hão-de ser gordura, graças ao sedentarismo que fui forçada a ter quase desde o início. No primeiro trimestre ainda fiz bastantes caminhadas até 5km, mas a partir daí fui forçada a repousar por encurtamento do colo do útero e risco de parto prematuro. Resultado: estou literalmente sentada/deitada há 6 meses e isso foi o que mais me custou em toda a gravidez, já que adoro desporto e sempre fui muito ativa. Foi por uma boa causa 😉 Noto também um aumento significativo da flacidez, celulite e retenção de líquidos, que me vão dar trabalho a “pôr no lugar”, mas este será também o mote para os próximos artigos – Recuperação pós-parto e amamentação/ aleitamento. Por isso, isto não é uma despedida, é um “até já”!
Para todas as grávidas ou mulheres que tencionem engravidar, espero que estes 9 artigos tenham feito a diferença!
Um beijinho,
Nutricionista Catarina Cachão Bragadeste