Microbiota & gravidez

Setembro #mêsdagrávida

É no 9ºmês do ano que se celebra o Mês da Grávida, em alusão aos 9 meses de gestação.

Ao longo de todo o mês iremos abordar temas diversos e publicar semanalmente receitas inovadoras e práticas!

Se pensa engravidar ou está gestante não pode perder este mês de publicações, porque estar grávida é uma benção mas também uma enorme responsabilidade!

Microbiota - uma população silenciosa, mas determinante!

Definição de Microbioma

O conceito de Microbioma foi recentemente (JUN2020) atualizado por um consenso de especialistas internacional: Atualmente considera-se que o "microbioma" é composto pela "microbiota" (comunidade de microrganismos) e pelo seu "teatro de atividade" (elementos estruturais, metabólitos / moléculas sinalizadoas e as condições ambientais circundantes)

A microbiota  é hoje estudada e valorizada pela sua grande interação com o hospedeiro, determinando diversas funções metabólicas, não sendo exceção a gravidez.

A disbiose (alteração nociva da microbiota) é uma mudança expectável e fisiológica na gravidez, principalmente nos segundos e terceiros trimestres e está naturalmente relacionada com uma maior probabilidade de aumento do peso e aumento da resistência à insulina (2018).

Disbiose da microbiota intestinal

A microbiota é uma comunidade microbiana que vive no corpo humano e varia de acordo com diversos fatores como idade, dieta e estilo de vida. Esses microrganismos desempenham um papel muito importante na manutenção da homeostase da saúde ou eubiose.

Está bem demonstrado que os distúrbios do trato gastrointestinal (TGI) estão ligados a padrões de alterações da microbiota (como obstipação, diarreia, doenças inflamatórias intestinais) que podem ser tratados com probióticos.

Além disso, distúrbios metabólicos importantes, apresentando níveis alterados de triglicéridos, lipídos, colesterol e glicose plasmática de jejum como desfechos clínicos, também estão relacionados à disbiose do TGI.

Da mesma forma, distúrbios de fertilidade, como síndrome do ovário poliquístico (SOP), cancro gastrointestinal e reprodutivo, ou distúrbios de saúde mental como depressão, anorexia ou ansiedade também estão ligados à disbiose da microbiota.

No caso de mulheres obesas ou que tenham ganhos de peso gestacionais muito elevados, estas alterações da microbiota serão mais intensas e com maior probabilidade de consequências adversas, resultando em complicações metabólicas, como o aumento da probabilidade de diabetes gestacional e macrossomia.

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Probióticos como tratamento das consequências de Disbiose gestacional

Os Probióticos são estirpes de bactérias vivas ou mortas consideradas benéficas para a saúde humana. Um dos mecanismos de ação dos probióticos consiste em neutralizar as bactérias patogénicas e as suas toxinas, modulando o metabolismo e a resposta imunitária através dos linfócitos T. 

Uma meta-análise (estudo de estudos) de 2021 aponta para que a suplementação em probióticos possa prevenir a dermatite atópica na criança, caso sejam administrados em grávidas/lactantes com história familiar próxima de doença alérgica (rinite alérgica, alergia alimentar, eczema, etc.).

 

A microbiota intestinal durante a gestação parece também ter impacto sobre a saúde da mulher, nomeadamente, no aparecimento de depressão pós-parto:

Um estudo Australiano cego randomizado e controlado, publicado na conceituada revista The Lancet em 2017, com 423 mulheres grávidas divididas em 2 grupos e suplementadas com probióticos Lactobacillus rhamnosus HN001 desde as 14-16 semanas até 6 meses após o parto verificou que o grupo suplementado com probióticos apresentava níveis significativamente mais baixos de sintomas de ansiedade e depressão.

E porquê? por causa do triptofano, um aminoácido essencial percursor da serotonina (neurotransmissor “do prazer” e relaxamento). Este é produzido em grande parte pelo intestino, dependendo de metabolitos provenientes da microbiota. Num intestino disbiótico há menor produção de serotonina. (Nat med 2018)

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Po outro lado o triptofano parece participar nesta relação por poder ser metabolizado pela microbiota , atravessando a barreira hemato-encefálica, bloqueando citoquinas inflamatórias e assim melhorando o humor. (Life Sci 2003)

O triptofano encontra-se especialmente em fontes de proteína, como o feijão, lentilhas, frutos gordos, sementes, peixe, ovos, carne e é melhor absorvido quando consumido em conjunto com hidratos de carbono (pão, massa, arroz, cereais, fruta).

Usados na prevenção e tratamento da diabetes gestacional, os probióticos parecem diminuir a glicemia e a insulinemia de jejum, assim como o HOMA (parâmetro que permite avaliar a resistência à insulina). Uma meta-análises (estudo de estudos) da revista Nutrients 2021  confirma estes dados, além de achar uma redução do risco de macrossomia e de internamento à nascença, quando as grávidas eram suplementadas com probióticos!

Já sabemos que a Disbiose se relaciona com alterações metabólicas diversas e o ganho excessivo de peso durante a gestação não é exceção.

Uma revisão da portuguesa Porto Biomedical Journal 2021 descreve com pormenor a relação entre disbiose, obesidade e síndrome metabólica.

Microbiota Intestinal e consequências da obesidade e síndrome metabólico Fonte : Porto Biomed J. 2021 Jan-Feb; 6(1): e111.

Em conclusão...

Uma microbiota saudável é estável, mas apresenta grande diversidade, sendo adaptada ao longo do ciclo de vida!

Uma alimentação saudável desde a pré-conceção, rica em ómega-3, fibra, vitaminas e minerais, além dum controlo dos processados, parece ser a chave para atingir uma microbiota ideal durante a gestação.

Um correto acompanhamento nutricional permite à gestante ter menor probabilidade de complicações, bem como diminuir as consequências durante a gravidez e pós-parto para o seu bebé!

Do que espera para começar a planear a sua gravidez com o Diário de uma Dietista?