Queda de cabelo
#Outono
Como vai caro leitor?
Hoje voltamos a mais um tema de saúde.
A queda da cabelo é um tema que abrange tanto mulheres como homens. Nos últimos, mais frequente por fatores genéticos e hormonais. Contudo, o cabelo desempenha um papel essencial no “eu”, contribuindo bastante para a auto-estima, como símbolo de beleza e saúde. Vamos então saber mais sobre este tema e no que a nutrição pode ser útil.
Alopécia - Calvície
Quando em grande escala, a queda de cabelo pode originar calvície ou alopécia (termo médico). Existem vários tipos de calvície, dependendo da sua origem, pode ser o resultado de fatores genéticos, de envelhecimento, de doenças cutâneas locais e das que afetam o organismo em geral (doenças sistémicas). Alguns fármacos, como os que se utilizam para tratar o cancro, também provocam queda de cabelo.
A calvice de distribuição masculina é a causa mais frequente de queda do cabelo que afeta os homens. É muito rara nas mulheres e nas crianças porque depende da presença de hormonas masculinas (androgénios) e as concentrações dessas hormonas são elevadas nos homens depois da puberdade. Este tipo de calvície é familiar. A queda do cabelo costuma começar nas zonas laterais, perto da região frontal, ou então na parte superior da cabeça e continuar para trás. A queda do cabelo pode começar em qualquer idade, inclusivamente na adolescência. Algumas pessoas perdem só parte do cabelo e desenvolvem uma calva na zona posterior ou noutra região do couro cabeludo. Outras, em especial as que começam a perder cabelo precocemente, podem ficar completamente calvas.
A calvície de distribuição feminina é menos frequente que a masculina. Regra geral, esta perturbação provoca a rarefação do cabelo à frente e nos lados, ou no cocuruto, mas raramente progride para uma perda total de cabelo. Tem como principal origem desequilíbrios hormonais, como os da tiróide ou da hipófise, ou até pode acontecer depois da gravidez. O cabelo pode cair 3 ou 4 meses depois de se sofrer da doença ou de outra perturbação. A perda de cabelo pode ser temporária ou definitiva
A calvície tóxica (alopécia tóxica) pode surgir como consequência de uma doença grave, com temperatura elevada. Em doses excessivas, alguns fármacos (em especial o tálio, a vitamina A e os retinóides) podem provocar calvície. O mesmo acontece com vários fármacos antitumorais. A perda de cabelo costuma ser temporária.
A alopécia areata é uma doença na qual se perde cabelo inesperadamente numa zona concreta, normalmente no couro cabeludo ou na barba, habitualmente desencadeada por nervosismo prolongado, stress e privação de sono. Raras vezes se perde todos os pêlos do corpo (alopecia universal). O cabelo costuma reaparecer após vários meses, exceto em pessoas com calvice extensa, em que um novo crescimento é improvável.
O arrancamento do cabelo (tricotilomania) é mais frequente nas crianças, mas o hábito pode prolongar-se durante toda a vida. Este costume pode passar despercebido durante muito tempo e tanto os médicos como os pais podem julgar que a perda de cabelo é devida a uma doença como a alopecia areata. Por vezes efetuar uma biopsia (colher uma amostra de pele e examiná-la ao microscópio) revela-se útil ao médico para estabelecer o diagnóstico.
A alopecia cicatricial é uma perda de cabelo que se dá em áreas cicatrizadas. A pele pode cicatrizar por queimaduras, lesões graves ou uma terapia com raios X. Causas menos evidentes de cicatrizes incluem o lúpus eritematoso, o líquen plano, as infeções bacterianas ou micóticas, a sarcoidose e a tuberculose. Os cancros da pele também podem provocar cicatrização.
Adaptado de Manual MSD
Como leu, as principais causas de queda de cabelo não estão associadas a desnutrição, embora possa acontecer em casos mais raros como na anorexia nervosa, síndromes de mal absorção, como doença de chron e doença celíaca não tratadas. Ainda assim, a maioria das pessoas, tal como os animais, tem uma queda de cabelo controlada, especialmente no outono, embora por vezes potenciada por razões de origem nervosa, cansaço, depressão e stress.
O ciclo de crescimento do cabelo
Em primeiro lugar, vamos perceber do que “é feito” o cabelo e como é o seu ciclo de crescimento:
Os pelos e os cabelos são estruturas cilíndricas compostas por proteínas, principalmente queratinae colagénio, que crescem através da pele pelos folículos pilosos situados nas regiões mais profundas da derme. Todo o corpo, exceto as palmas das mãos e plantas dos pés, possuem folículos pilosos e pelos. Em alguns locais, por serem muito claros e finos, os pelos podem passar despercebidos, mas estão lá.
- Anágena ou fase de crescimento dos cabelos. Dura em média de 2 a 3 anos, podendo chegar até a 7 anos.
- Catágena ou fase de involução. Dura apenas algumas semanas, em média duas ou três. Nesta fase o cabelo pára de crescer e o folículo começa a regredir.
- Telógena ou fase de desprendimento. Dura 3 a 4 meses. O cabelo solta-se da papila e uma nova fase de crescimento começa.Conforme o novo cabelo vai crescendo, o antigo “morto” é empurrado para fora do folículo piloso e cai.
Esse processo de crescimento e morte ocorre em todo o corpo com velocidades diferentes para cada tipo de pelo.
De que se alimenta o cabelo?
Pois bem, agora que sabemos tudo sobre o cabelo e as principais razões da sua queda, vamos perceber como a nutrição pode ser útil na sua prevenção e tratamento.
Quando há queda de cabelo acentuada, a maioria das pessoas procura um suplemento vitamínico para a combater. Não está errado. Contudo, deve começar pela base, os seus hábitos alimentares. Se a sua nutrição for desequilibrada, não espere que o seu cabelo esteja saudável (assim como o resto do corpo). Aliás, uma alimentação incorreta pode até evitar a correta absorção do tal multivitamínico que comprou, acabando por se perder no intestino. Comece pelo básico e mude os seus hábitos alimentares. Também o cansaço e stress são fatores fundamentais para que o seu cabelo não esteja saudável (leia 13 medidas para mudar a sua vida).
É verdade, o seu cabelo é um indicador claro do seu estado nutricional e de saúde.
Quando há défice de nutrientes essenciais (aminoácidos, vitaminas ou minerais), o corpo distribui os nutrientes disponíveis para os processos indispensáveis à vida. Já que o crescimento capilar não é uma função vital, o corpo ignora esse processo e utiliza os nutrientes disponíveis para outros processos.
Resultado: pequenos défices de alguns aminoácidos, vitaminas ou minerais não são visíveis a curto prazo. No entanto, a formação de novos fios fica comprometida, com repercussões dentro de alguns meses.
Um dos melhores exemplos são os níveis baixos de ferro: mesmo com concentrações de ferro no sangue ainda aceitáveis de acordo com os parâmetros clínicos, a queda de cabelo pode ser um indicador de insuficiência. O défice de ferro é predominante nas mulheres, especialmente em idade fértil, devido às perdas menstruais e ao baixo consumo deste mineral. Estima-se que 75% das mulheres em idade fértil tenham défices de ferro no sangue.
Leia também Alimentos contra a anemia.
Mais: Lembramos que o cabelo é constituído por 98% proteínas, em especial queratina. Deste modo, uma dieta rica em carne, peixe, ovos, feijões e cereais integrais é essencial para formar cabelos de qualidade.
Alguns aminoácidos sulfurosos (frações de proteínas), como a cisteína e metionina, fazem parte da síntese de queratina, unindo as fibras individuais de queratina no cabelo.
Para crescer, as raízes capilares (folículos) necessitam destes dois aminoácidos sulfurosos, assim como de vitamina C, vitamina E e dos minerais ferro, zinco e cobre.
A suplementação de cisteína, em combinação com ácido pantoténico (vitamina B5) e extrato de semente de milhete teve eficácia comprovada em mulheres com calvice difundida. Num estudo alemão em que mulheres com perda de cabelo difundida tomaram uma fórmula de 400 mg composta de extrato de semente de milhete, cisteína e ácido pantoténico, o crescimento capilar voltou aos níveis normais em apenas 3 meses. O extrato de semente de milhete é rico em silicone e parece ter componentes que estimulam o crescimento capilar. O estudo teve um grupo de controlo com placebo e os seus resultados tiveram relevância estatística. Isso significa que os resultados podem ser considerados confiáveis.
In Trüeb R.M.: Systematic approach to hair loss in women, Journal of the German Society of Dermatolgy 2010; 8 (4): 284- 297
A metionina forma cadeias de enxofre que compõem a estrutura básica da pele, das unhas e especialmente do cabelo. Um estudo italiano descobriu que tomar metionina pode promover o crescimento saudável de cabelo em conjunto com a cisteína, zinco e vitaminas B.
In Alonso, L. & Fuchs, E.; “The hair cycle”; Journal of Cell Science, 2006; issue 119, pages 391-393. Gröber, Uwe; “Orthomolecular Medicine”; 3. Edition.; p. 192
A arginina é um aminoácido semi-essencial particularmente importante para a circulação. A arginina fornece o composto NO (óxido nítrico), um vasodilatador. Apenas com a dilatação adequada, os vasos sanguíneos podem transportar os nutrientes e oxigénio necessários aos tecidos. A má circulação pode ser uma causa de queda de cabelo, por insuficiência venosa no couro cabeludo.
In Saini, R. & Zanwar, A. A.; “Arginine Derived Nitric Oxide: Key to Healthy Skin”; Bioactive Dietary Factors and Plant Extracts in Dermatology”; 2013, pages 73-82
O colagénio ou colágeno, é uma proteína presente naturalmente nos tecidos conjuntivos. Estima-se que represente 30% das proteínas totais do nosso organismo. Apesar de ser produzido pelo corpo humano, a sua síntese diminui com o envelhecimento. Os benefícios do colagénio são diversos e estão comprovados cientificamente, leia Colágeno | O que é?.
Esta proteína está presente nos fios de cabelo, contribuindo para a sua estrutura e hidratação. Quando há défice de colagénio o cabelo fica quebradiço, seco e fino, caindo com facilidade. Esta proteína neutraliza radicais livres (agressores oxidativos), contribuindo para um cabelo espesso, hidratado e fortalecendo a cutícula (previne a queda).
A vitamina E ou alpha-tocoferol é uma vitamina solúvel em gordura que tem um papel importante na integridade celular, protegendo células sensíveis na pele e nos folículos capilares. Aproximadamente 50% da população não ingere a dose diária recomendada desta vitamina, o que prejudica o crescimento capilar e a renovação das células dos folículos. Boas fontes alimentares de vitamina E são as sementes, os cereais integrais e as oleaginosas.
A biotina é uma vitamina B solúvel em água. Ela é particularmente importante na divisão celular (mitose) e metabolismo celular. Os sintomas de défice de biotina são pele seca, queda de cabelo e calvice.
A vitamina C cumpre um papel fundamental na síntese de queratina e na ativação do colagénio, sendo portanto um elemento vital para cabelo, pele e unhas. Encontra-a em frutas e vegetais, pelo que deve ingerir 5 porções por dia destes alimentos frescos.
O zinco é um dos microelementos mais importantes, envolvido em mais de 200 processos metabólicos diferentes. O défice de zinco causa uma variedade de sintomas, entre eles a queda de cabelo. O zinco cumpre um papel importante na formação da queratina, o componente mais importante do cabelo, da pele e das unhas.
A queda de cabelo causada pela insuficiência de zinco pode ser revertida através da suplementação do mineral (10mg a 15 mg por dia).
O cobre é outro mineral crucial para o crescimento capilar, em especialmente para a coloração. Se existir défice deste mineral o cabelo parte-se com facilidade e perde cor e brilho.
Conhecido como o mineral da beleza, o silício orgânico é um elemento naturalmente presente no corpo humano. Tem como função regenerar as células da pele, estimular a produção de colagénio, elastina e fibroblastos. A sua produção diminui com a idade, como consequência tem-se pele flácida, frágil e fina, cabelos sem brilho e secos, unhas fracas e quebradiças. Encontra-o naturalmente em peixes e mariscos, mas a sua suplementação (em líquido) é a forma mais eficaz de repor este mineral.
O extrato de semente de uva contém procianidinas. Esta substância vegetal melhora a circulação e é um potente antioxidante. Estes efeitos podem contribuir para a proteção das raízes capilares sensíveis e melhorar o abastecimento nutricional.
Que suplemento tomar e quanto tempo demora a fazer efeito?
Como percebeu existem inúmeros nutrientes envolvidos na síntese e crescimento do cabelo. Por isso não vale a pena tomar um dos nutrientes atrás descritos, mas sim um multivitamínico corretamente formulado. Aconselhe-se com o seu médico ou nutricionista.
Quanto tempo tem de tomar para ver efeitos? Tudo depende da velocidade de crescimento do seu cabelo, tal como descrito anteriormente, mas estima-se que no mínimo entre 2 a 4 meses, para começar a ver algum efeito. Também alguns produtos capilares como cremes e champôs são excelentes aliados na nutrição do fio de cabelo.
Não se esqueça, mesmo tomando um suplemento, se a sua alimentação for desequilibrada, é provável que o seu corpo não absorva o que tomou, ou use esses nutrientes para outras funções mais vitais. Mude o seu estilo de vida, o seu cabelo e toda a sua saúde rejuvenescerá.