Nutrição & Doença autoimune

Como vai caro leitor?

Hoje temos uma publicação direcionada para pessoas com doença autoimune. Sim, porque a nutrição não é só a cura da obesidade, é ainda mais importante na prevenção e tratamento de inúmeras outras doenças. Afinal, “nós somos o que comemos”.

Reações Autoimunes

De uma forma simples: O nosso sistema imunitário é composto por células, moléculas, órgãos, epitélios, que funcionam em conjunto para nos defender contra "invasões" extrenas. Contudo, por vezes o sistema imunitário não funciona correctamente, interpretando os tecidos do corpo como estranhos. Como consequência, ataca-os, provocando uma reacção autoimune. 

As reacções autoimunes podem ser desencadeadas de várias maneiras:

  • Uma substância corporal que habitualmente fica estritamente confinada a uma área específica (e, por consequência, escondida do sistema imunitário) é libertada na circulação sanguínea. Por exemplo, o líquido do globo ocular limita-se, normalmente, às câmaras do olho. Se uma pancada no olho libertar aquele líquido para a corrente sanguínea, o sistema imunitário poderá reagir contra ele.
  • Uma substância corporal normal é alterada. Por exemplo, os vírus, os medicamentos, a luz solar ou as radiações podem modificar a estrutura de uma proteína até ao ponto de a fazer parecer estranha.
  • O sistema imunitário responde a uma substância estranha que tem uma aparência semelhante a uma substância natural do corpo e ataca involuntariamente tanto as substâncias do corpo como as estranhas.
  • Algo funciona mal nas células que controlam a produção de anticorpos. Por exemplo, os linfócitos B cancerosos podem produzir anticorpos anormais que atacam os glóbulos vermelhos.

Os resultados de uma reacção autoimune variam: 

É frequente o indivíduo ter febre. Vários tecidos podem ficar destruídos, tais como vasos sanguíneos, cartilagem e pele. Virtualmente todos os órgãos podem ser atacados pelo sistema imunitário, incluindo os rins, os pulmões, o coração e o cérebro. A inflamação e o prejuízo causado nos tecidos podem causar insuficiência renal, problemas respiratórios, funcionamento cardíaco anormal, dor, deformação, delírio e morte.

Um grande número de afeções têm, quase certamente, uma origem autoimune, incluindo o lúpus (lúpus eritematoso sistémico), a miastenia grave, a doença de Graves, a tiroidite de Hashimoto, o vitiligo, a artrite reumatóide, a esclerodermia, a síndroma de Sjögren e a anemia perniciosa.

In Manual MSD

Medicina convencional & Doenças autoimunes

Viver com uma doença autoimune pode ser uma experiência solitária. Muitas pessoas esperam anos para descobrir porque estão doentes, e quando diagnosticadas recebem poucas opções além da medicação à base de imunossupressores e antinflamatórios (com inúmeros efeitos secundários).

No cerne da questão está o modelo tradicional dos cuidados médicos: trata o corpo como uma máquina, com partes separadas, em particular os sintomas e não a causa do problema. Ou seja, é-lhe diagnosticada uma doença e “sai do consultório” com uma droga correspondente. Se pelo contrário, não for possível um diagnóstico, poderá ser dado como deprimido, ansioso e prescrito um antidepressivo. Será encaminhado de especialista em especialista: gastroenterologistas, endocrinologistas e reumatologistas, e dado mais fármacos, como imunossupressores e corticosteroides.

Na realidade, o corpo humano é uma rede complexa e interligada de bioquímica brilhante. Não existem pílulas mágicas.


O porquê das autoimunes

As doenças autoimunes começam, habitualmente, por uma susceptibilidade genética, porém, existem inúmeros fatores externos que também se relacionam com a autoimunidade. Segundo a antiga visão da genética, se os seus pais tinham uma doença, então estaria predestinado a tê-la.

Felizmente, hoje em dia, a ciência tem em conta a epigenética, ou seja, o efeito que o estilo de vida e os fatores ambientais têm na expressão genética: os alimentos que come ou não come, o seu nível de stresse, os seus hábitos de sono e a exposição a toxinas, determinam dinamicamente a expressão do genes.

Assim, ao invés de ver a herança genética como um veredito imutável para a vida, devemos ter em consideração como os fatores epigenéticos irão influenciar os nossos genes. Isto é basicamente prevenir.

Quando se trata de doenças autoimunes, uma vez ligado, “o interruptor genético” não se desliga novamente. Cabe-nos a nós modular o sistema imunitário e recuperar a nossa saúde.

Posto isto, aqui estão algumas sugestões para recuperar a sua saúde, assim como a sua qualidade de vida:

É no intestino que reside a maior parte do sistema imunitário. Quando a sua camada protetora está comprometida, pode desencadear uma vasta resposta autoimune.

Leitura sugerida:

e o nosso artigo do blog

Para a saúde intestinal é essencial o equilíbrio da microbiota (estirpes sobretudo bacterianas que colonizam o intestino). Caso haja Disbiose (desequilíbrio da flora intestinal) a permeabilidade intestinal fica em causa, estimulando o berço do sistema imunitário, causando alerta continuado e assim predispondo a doença autoimune.

Da Simbiose à Disbiose – abrir a porta à Autoimunidade . Front Immunol. 2021; 12: 673708.

Atualmente já existem diversos métodos de análise da microbiota, através das fezes ou urina, disponíveis nos principais laboratórios de análises clínicas (exemplo).

Mas como prevenir a Disbiose, preservar a barreira intestinal e ter uma microbiota saudável?

Descubra no nosso artigo:

Microbiota & Disbiose

Se tem uma doença autoimune, não precisa de um laboratório para saber que deve evitar o glúten.

Esta proteína, encontrada no trigo, espelta, centeio, cevada e aveia não biológica, está ligada a várias condições autoimunes.

A Sensibilidade ao trigo não-celíaca não deve ser confundida com alergia, cujos sintomas graves levam à doença celíaca. Isto significa que, apesar dos testes de anticorpos antigliadina serem negativos, a presença de frações peptídicas de gliadina têm uma ação imunoestimuladora no lúmen intestinal, agravando os sintomas das doenças autoimunes.  Assim, os pacientes com doença autoimune podem beneficiar desta exclusão como sugere um recente estudo publicado na conceituada Nature Reviews da Oxford Academy.

Para fazer uma dieta de exclusão de glúten deve consultar um nutricionista.


Por sua vez, também a proteína do leite (e seus derivados), a caseína é imunoestimuladora. Substitua-o por bebida vegetal sem açúcar, bem como os seus derivados (queijo, manteiga, iogurte, natas) por alternativas vegetais!

Leia no Blog

Intolerância ao leite – Opções?

Doenças autoimunes e imunomediadas associadas ao consumo de leite bovino.

Para além do glúten, o seu sistema imunitário pode ser reativo a outras proteínas potencialmente alergénicas, como as do milho, amendoim, arroz e soja….

O que fazer? Procure um nutricionista que o auxilie a delinear um plano alimentar de inclusão gradual dos alimentos. Considera-se que para ter uma conclusão é preciso evitá-los por 60 dias.

Os anti-inflamatórios naturais tendem a modelar a resposta imunitária, para que esta não seja tão agressiva.

Leia o nosso artigo

Alimentos anti-inflamatórios

Por se conhecer a importância de seguir uma alimentação adequada, um grupo de trabalho formulou, recentemente, uma pirâmide alimentar para pacientes com Artrite Reumatoide, publicada na revista Clinical Nutrition:

Pirâmide dos Alimentos ideal para pacientes com Artrite Reumatóide

 

Para além de alimentos, é comum recorrer-se a suplementos alimentares que têm uma maior concentração de substâncias anti-inflamatórias e que auxiliam na recuperação dos tecidos. São exemplos:

São vários os estudos científicos que comprovam a relação nefasta entre o sal de mesa refinado e algumas doenças auto-imunes.

Efeitos do aumento do consumo de cloreto de sódio na saúde. A dieta rica em sal (HSD) é considerada um fator de risco para aumento da pressão arterial, aterosclerose (lesão dos vasos sanguíneos), obesidade, cancro e autoimunidade.

Saiba mais sobre o sal no nosso artigo 

Sal: amigo ou inimigo? 

Em vez disso faça uso das ervas aromáticas, muitas delas com grande potencial anti-inflamatório e antioxidante,

Saiba mais em Sem tempero não dá!

Não é nenhuma surpresa que o stresse crónico é um gatilho para uma condição autoimune.

Muitas pessoas têm os primeiros sintomas após uma situação de vida marcante, como a morte de um familiar próximo. A prática regular de meditação ou tai chi, assim como a acupuntura podem ser ferramentas indispensáveis  para melhor gerir o stresse e equilibrar o seu sistema imunitário.

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13 medidas para mudar a sua vida

A glutationa, uma molécula composta por três aminoácidos, é conhecida como o “antioxidante mestre”. Ela é responsável pela prevenção de danos do DNA e é considerada por muitos como um dos mais poderosos nutrientes anti-envelhecimento já descobertos. Também desempenha um papel fundamental na desintoxicação de produtos químicos nocivos, incluindo elementos cancerígenos. Este importante antioxidante está frequentemente em défice nas doenças autoimunes.

Para melhorar a sua produção, aumente a ingestão de alimentos ricos em enxofre como cebola, repolho, abacate, espargo, batata doce, abóbora, quiabo, couve-flor, laranja, morango, melão, pêssego, brócolo e tomate cru.

Em conclusão...

Não existe cura para as doenças autoimunes, mas existe uma panóplia de medidas preventivas, que lhe permitem atrasar a sua progressão e diminuir grandemente os sintomas/ crises.

Posto isto, aconselhamo-lo a procurar um nutricionista que o acompanhe neste processo de descoberta, para que volte a ter a sua qualidade de vida.

E não se esqueça: Medicação não é (a única) solução.