Obesidade, síndrome multifatorial
Considerada pela Organização Mundial de Saúde como a “epidemia do século XXI”, a obesidade é uma doença crónica de armazenamento excessivo de gordura corporal. Encarada como um dos maiores problemas de saúde pública mundial, a obesidade é a segunda causa de morte passível de prevenção, logo a seguir ao tabagismo.
Em Portugal, a obesidade foi reconhecida oficialmente como doença crónica a 25 de março de 2004.
Obesidade em Portugal
A obesidade é um dos fatores de risco com mais peso nas doenças em Portugal. São 28,7% os portugueses com idades entre os 25 e os 74 anos que sofrem de obesidade, principalmente as mulheres (32,1%). Relativamente às crianças, perto de 31% apresentam excesso de peso, número que diminuiu nos últimos oito anos. A mesma tendência é verificada quanto aos casos de obesidade infantil, que decresceu de 15,3% em 2008 para 11,7% em 2016, em todo o país.
- 5,9 Milhões de portugueses têm excesso de peso
- 8 em cada 10 idosos apresentam excesso de peso
- indivíduos menos escolarizados apresentam maior prevalência de excesso de peso e de obesidade abdominal
- Apenas 41,8% dos cidadãos apresenta uma prática regular de actividade física, desportiva e/ou de lazer
- 30,7% das crianças portuguesas apresentam excesso de peso;
- 11,7% das crianças portuguesas são obesas.
In Retrato da Saúde em Portugal 2018 (fonte Ministério da Saúde)
A obesidade é o resultado de insuficientes níveis de atividade física combinados com uma alimentação inadequada, caracterizada por um consumo excessivo de calorias, em grande parte provenientes de açúcar e gordura. Acresce ainda que indivíduos com excesso de peso têm maior risco de consumo excessivo de sódio e de ácidos gordos saturados. Os hábitos alimentares inadequados contribuem para a perda de 15,4% dos anos de vida saudável na população portuguesa.
Segundo o mais recente Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade Física (IANAF), realizado entre 2015 e 2016, que analisou uma amostra global de 6553 cidadãos portugueses, com idades entre os 3 meses e os 84 anos, apurou-se que:
- 17% da população portuguesa ingere pelo menos um refrigerante ou néctar por dia;
- O contributo dos alimentos dos grupos doces, refrigerantes (não incluindo néctares), bolos (incluindo pastelaria), bolachas e biscoitos, cereais de pequeno-almoço e cereais infantis para o consumo de açúcares simples é de 30,7%.
- Os açúcares simples provenientes dos alimentos dos grupos referidos representam mais de 10% do VET em 15,4% da população nacional, sendo esta prevalência superior nos adolescentes do sexo masculino (30,5%) e nas adolescentes do sexo feminino (19,6%);
- Um em cada dois portugueses não ingere a quantidade de produtos hortícolas ou de fruta recomendada pela OMS;
- Cada português consome, em média, 3gramas de sal em excesso por dia;
- Apenas 25% da população com mais de 15 anos atinge as recomendações internacionais para a prática de atividade física;
- Portugal é o segundo país de Europa que menos caminha – 29% nunca caminham mais de 10 minutos por dia – e o país onde mais pessoas afirmam que não têm interesse ou motivação para praticar atividade física ou desporto (33%).
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que, num país com cerca de 10 milhões de habitantes, onde 50% seja insuficientemente ativa, exista um custo anual derivado da inatividade física de 900 milhões de euros, o equivalente a 9% do orçamento do Ministério da Saúde para 2017, no caso específico de Portugal.
In Retrato da Saúde em Portugal 2018 (fonte Ministério da Saúde)
Consequências da Obesidade para a Saúde
- Doenças cardiovasculares (hipertensão arterial, arteriosclerose, insuficiência cardíaca congestiva, angina de peito)
- Complicações no sistema respiratório (dispneia, síndrome de insuficiência respiratória do obeso, apneia de sono)
- Dislipidémias (excesso colesterol e trigliceridos)
- Diabetes tipo II
- Hipertensão arterial
- Doenças osteo-articulares
- Infertilidade
- Depressão/ baixa auto-estima
- Doenças autoimunes
- Incontinência urinária
- Cancro da próstata e do tubo digestivo
A morbilidade e mortalidade da população apresentam tendências e causas diversas, sendo influenciadas por vários fatores. Se há determinantes da saúde incontornáveis, como a idade, sexo e questões hereditárias, outros há que se devem a comportamentos de risco, que podem ser evitados.
Em Portugal, um quarto do peso da doença tem origem em fatores de risco comportamentais, como o tabagismo, o consumo de álcool e os hábitos alimentares. Situação esta que acompanha a tendência europeia.
In Retrato da Saúde em Portugal 2018 (fonte Ministério da Saúde)
O que estamos a fazer para combater a Obesidade?
A evidência mostra que a política de preços constitui uma ferramenta para a promoção da alimentação saudável. Diversos países na região europeia introduziram regimes de taxação de gamas alimentares e nutricionais, motivados por razões do foro da saúde pública. Nos casos em que existe evidência científica disponível, esta parece ser consistente com a teoria económica e com os estudos científicos existentes, verificando-se diversos exemplos de alterações nos padrões de compra e consumo associados a políticas de regulação de preços. Em Portugal, o Orçamento do Estado para 2017, aprovado pela Lei n.º 42/2016, de 28 de dezembro, criou um novo Imposto Especial sobre o Consumo (IEC) que incidiu sobre bebidas adicionadas de açúcar ou outros edulcorantes, tais como refrigerantes, bebidas energéticas, águas aromatizadas, etc.
E a nível individual?
Cabe a cada um a responsabilidade de tratar e promover a nossa própria saúde e dos nossos dependentes. Para isso basta adoptar estratégias no dia-a-dia que nos permitam estar ativos e manter hábitos alimentares saudáveis. Caso não o consiga fazer sozinho aconselhe-se com o seu médico, procure um nutricionista e profissional do exercício.