Quando o peso não é a mais, é a menos!

Continuamos em Junho noemado o “mês da criança” pelo Diário de uma Dietista.

Ao longo deste mês temos abordado vários temas:

Nesta última semana introduzimos um tema raramente falado, mas que muita angústia causa nos cuidadores:

O baixo peso infantil

Como se define?

O baixo peso infantil é geralmente definido pela análise das curvas de crescimento da relação do peso-altura com a idade. Esta avaliação deverá ser realizada por um profissional de saúde treinado e o diagnóstico não deve resultar meramente do valor absoluto mas sim da evolução destes parâmetros ao longo do tempo. A comparação com outras crianças, incluindo os próprios irmãos, não traz vantagens uma vez que se sabe que existe variabilidade inter-individual, o que significa que nem todos os seres humanos são iguais. 

Exemplos de curva de Percentil OMS

Prevalência - Childhood Obesity Surveillance Initiative 2019

Não sendo muito prevalente, ainda assim o baixo peso atinge cerca de 1.3% das crianças portuguesas, sendo mais prevalente em rapazes do que em raparigas

O reconhecimento e consequente tratamento desta condição é crucial para prevenir possíveis atrasos no desenvolvimento e complicações a longo prazo!

Causas e Tratamento

© iStock

As causas do baixo peso poderão variar entre fatores ambientais (externos) ou alguma condição médica, mas estão ambos relacionados com uma nutrição inadequada. Estes podem incluir: 

  • Ingestão alimentar diminuída,
  • deficiências na absorção de nutrientes
  • ou aumento das necessidades energéticas. 

O comportamento alimentar assume aqui especial importância, nomeadamente comportamentos de recusa alimentar e diminuição do apetite, especialmente presentes no segundo ano de vida das crianças, quando o crescimento abranda e, por consequência, as necessidades energéticas também, o que se reflete no apetite – este fenómeno denomina-se por anorexia fisiológica. 

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“Entenda o seu filho à mesa”

O que é que os cuidadores devem fazer?

Por receio de uma carência nutricional grave ou complicações de saúde a longo prazo, muitos pais ficam extremamente preocupados por os seus filhos não comerem.

No entanto, forçar e obrigar as crianças a comer não é solução, isto porque pode muitas vezes ter o efeito contrário e estes podem começar a associar o ato de comer a sentimentos de punição/recompensa. 

Por outro lado, expô-los a alimentos menos saudáveis, “mais-a-seu-gosto” para que comam “alguma coisa” só vai exponenciar estes comportamentos.

Em vez disso, experimente estas estratégias: 

Neofobia Alimentar

Um dos causadores do baixo-peso pode considerar-se normal e fisiológico: a neofobia alimentar. No entanto, apesar de ser considerada “uma defesa natural”, nos dias que correm pode ser um problema!

O que é?

A neofobia alimentar define-se como a falta de recetividade e medo (do sabor, consistência, textura) de novos alimentos ou a alimentos já conhecidos mas servidos de forma diferente da habitual. Pode desenvolver-se desde a introdução alimentar, mas sobretudo manifesta-se entre os 2 os 5 anos de idade.

A base da neofobia alimentar poderá assentar em fatores biológicos, psicológicos, antropológicos e socioculturais. Uma explicação poderá ser o facto de, primitivamente, termos resistência para experimentar novos sabores e alimentos pelo perigo de ingerir substâncias tóxicas de forma a assegurar a sobrevivência.

Comportamentos neofóbicos promovem falta de variedade alimentar e a monotonia alimentar, o que poderá originar carências nutricionais (nomeadamente, vitamina E, folato, cálcio, zinco e fibra), sendo o principal grupo alimentar mais evitado pelas crianças o das hortofrutícolas, provavelmente devido a estar associado a um sabor mais ácido ou amargo, e as crianças preferirem naturalmente sabores mais doces e salgados.

Como evitar a neofobia alimentar?

A identificação precoce da neofobia alimentar é fundamental e o reconhecimento de que o medo de novos alimentos pode e dever ser ultrapassado com recurso a estas estratégias poderá promover hábitos alimentares saudáveis no futuro destas crianças. 

Durante esta semana iremos partilhar algumas receitas que podem ajudar e simplificar a relação das suas crianças com os alimentos. 

Apesar de serem momentos desafiantes, é importante que os pais mantenham a conduta calma e positiva, promovendo o crescimento saudável das suas crianças para que a longo prazo sejam adultos com uma relação saudável e equilibrada com a alimentação.

Muitos dos medos, vícios e obsessões com a comida vividas na idade adulta vêm de traumas de infância como “uma professora que obrigou a comer a sopa”, ou um “não sais da mesa enquanto não terminares”, ou “tens de comer mesmo que esteja frio…”.

Não faça isto aos seus filhos, ponha-se no lugar deles. Procure ajuda de um Nutricionista, juntos iremos delinear estratégias e compromissos para que tudo se torna mais fácil e saudável!

JUNHO #mesdacriança