Autismo & Nutrição
JULHO #mêsdocérebro
Estamos a terminar o mês do Cérebro, mas não poderíamos encerrar sem alertarmos futuros pais e cuidadores para a importância da Nutrição para os Transtornos do espectro do
Autismo (TEA)
Um especto de Perturbações
Os TEA são considerados perturbações globais do desenvolvimento infantil que se prolongam por toda a vida e evoluem com a idade. Podem desenvolver-se até aos 3 anos de idade e manifestar-se sob a forma de diversas características sintomatológicas, sociais e comportamentais. Geralmente envolvem atraso na linguagem, comportamentos repetitivos, agressividade, entre outros.
É, por isso, válido questionar se o aumento de TEA se deve a melhor diagnóstico ou, de facto, a fatores de origem ambiental? Ambas as premissas se parecem confirmar.
A pesquisa científica tem-se centrado logo no ambiente intrauterino, onde parece haver diversas alterações que, juntamente com determinantes genéticos, podem explicar esta hipótese.
Seletividade Alimentar
No que concerne à alimentação, comportamentos de recusa e seletividade alimentar são frequentes, sendo que muitas vezes estas crianças se recusam comer ou só aceitam o mesmo alimento, causando grande ansiedade nos cuidadores, mas que pode ser atenuado com um correto acompanhamento.
Eis algumas estratégias para tornar a hora da refeição mais agradável:
As rotinas e “o esperado” é essencial para os TEA, seja na hora da refeição, seja no que antecede ou precede.
Reduzir a luz da cozinha ou do espaço onde decorre a refeição se verificar que é um fator stressor. Não ter TV ligada ou mesmo telemóveis ou tabletes que perturbem o ambiente e a refeição.
Poderá haver um lugar habitual, mas se naquele dia a criança escolher outro, aceite com normalidade.
Se a criança mostrar seletividade alimentar, apresente os alimentos recusados fora do ambiente “da mesa”: leve-o ao supermercado e mostre-lhe os alimentos, cozinhem juntos e apresente-os sob diversas formas e em diferentes situações, sem exercer pressão.
Perspectivas Nutricionais
A eliminação de glúten e de caseína nos TEA tem sido amplamente estudada.
O glúten é uma proteína presente em cereais e a caseína é uma proteína presente no leite e derivados. Ambos parecem aumentar a quantidade de substâncias inflamatórias na mucosa intestinal.
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Os sintomas gastrointestinais são comuns nos TEA, não estando ainda estabelecido “quem nasceu primeiro”: se a inflamação intestinal contribui para os TEA, ou se são os TEA que causam os sintomas gastrointestinais. Sabe-se que é no intestino que se produz a maior parte da serotonina do corpo humano, assim como uma série de substâncias neurotóxicas, como os opióides, quando há inflamação da mucosa. Deste modo, há muitos anos que se estuda a vantagem desta dieta d’Eliminação, sendo frequentes resultados como “melhorias nas capacidades de comunicação, cognitivas e sociais”.
Apesar de não haver unanimidade nos protocolos dos estudos, o que impede uma conclusão definitiva sobre a efetividade/ benefício da dieta de eliminação de glúten e caseína nos TEA, advoga-se como intervenção nutricional válida, por não trazer qualquer desvantagem quando devidamente acompanhada por um nutricionista (fonte).
Outra intervenção nutricional válida nos TEA passa por aumentar o consumo de ómega-3 (um ácido gordo polinsaturado).
Evidência científica aponta para que crianças com autismo apresentem valores de ácidos gordos polinsaturados inferiores e, quando suplementadas com ómega-3 por um período de 3 meses, tenham tido melhorias na concentração, contacto visual e na linguagem.
Por outro lado, surgiram também estudos com resultados contrários, o que impossibilita a conclusão se será ou não vantajoso para todos os TEA.
Ainda assim, pelo seu carácter anti-inflamatório e neuroprotetor o consumo ou suplementação de ómega-3 deverá ser considerado pelo profissional (fonte).
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Ómega-3 & Cérebro
A vitamina D é uma hormona esteróide crucial no neurodesenvolvimento, nomeadamente em:
- Proliferação de células neurais
- Neurotransmissão,
- Stress oxidativo
- e função imune.
Portanto, a carência de vitamina D durante a gravidez e a primeira infância pode ter um impacto significativo no cérebro em desenvolvimento, levando a possíveis resultados neuropsicológicos adversos, incluindo o TEA.
Uma carência significativa de vitamina D foi descrita em crianças com TEA e em grávidas cujos filhos desenvolveram TEA posteriormente, sugerindo um possível papel desta hormona na sua etiopatogénese (fonte).
Lembramos que a vitamina D é sintetizada pela exposição solar, e está também presente em alimentos como peixe e ovo. Ainda assim a sua suplementação deve ser considerada logo desde a pré-conceção e nascimento.
Em conclusão
Apesar de ainda não haver um padrão de intervenção nutricional estabelecido para os TEA, já existem “direções” decorrentes da investigação científica.
Um correto acompanhamento por um profissional experiente pode melhor sintomas e proporcionar qualidade de vida, para crianças TEA e seus cuidadores.