Microbiota & Disbiose
Como vai caro leitor?
O tema de hoje é mais agradável do que parece.
Já lá vai o tempo em que o intestino era o órgão sujo, feio e desagradável de que ninguém queria falar, até porque com o estilo de vida moderno surgem cada vez mais doenças relacionadas com estes órgão. São exemplos, as doenças inflamatórias do intestino (síndroma de Crohn, colites), a doença celíaca, diverticulite e até as neoplasias do cólon, que matam cada vez mais portugueses.
Para além das doenças declaradas, é comum encontrar-se pessoas com sintomas desagradáveis ligados ao intestino, como flatulência, cólicas, distensão abdominal, hemorroidal, diarreia e a mais comum, obstipação (vulgo prisão de ventre).
O intestino
O intestino divide-se em duas porções major, o intestino delgado (6 a 9 metros) e o intestino grosso ( 1,5 a 1,8metros). A principal função do primeiro é a digestão e absorção de tudo o que é ingerido (líquidos, alimentos, medicamentos). Portanto, o intestino delgado desempenha um papel fundamental no que toca ao emagrecimento, pois é ele que "decide" o que é absorvido! Como principal função do intestino grosso temos o armazenamento dos produtos da digestão e a sua preparação para serem eliminados (transição bolo alimentar - fezes), através de processos de fermentação e reabsorção de água. É no intestino que reside o único "órgão vivo" do organismo humano: a flora intestinal.
A Flora Intestinal
Até há pouco ignorada, hoje sabe-se que a flora intestinal desempenha um papel fundamental na promoção da saúde e na prevenção da doença.
Designa-se por flora intestinal o grupo de bactérias, fungos e protozoários que vivem no intestino grosso. Esta divide-se em dois tipos:
- Permanente – Associada às células da mucosa do intestino.
- Transitória – Proveniente da parte superior do tubo digestivo e dependente da alimentação.
Por essa razão, o equilíbrio da flora intestinal é instável, havendo “uma luta” constante entre espécies “boas” e patogénicas. Ainda assim, as principais estirpes de bactérias residentes no cólon são: Bifidobacterium, Clostridium, Eubacterium, Peptococcus, Ruminococcus, Peptostreptococcus.
As suas principais funções são:
- Prevenir a ocupação do cólon por estirpes patogénicas, equilibrando o pH.
- Combater infeções através da produção de antibióticos naturais, que são absorvidos pelo sangue.
- Melhorar o processo de digestão, contribuindo para produção de enzimas responsáveis pela degradação de nutrientes complexos, ajudando a melhorar a absorção dos mesmos (p.ex. fibras);
- Eliminar diversas toxinas;
- Estimular o sistema imunitário;
- Sintetizar vitaminas do complexo B e K;
- Reduzir a absorção de sais de colesterol;
- Prevenir a prisão de ventre, a diarreia e flatulência.
E como podemos aumentar a flora "boa" no nosso intestino?
Fazendo uma alimentação pobre em gorduras, em açúcar e em aditivos alimentares; privilegiando o consumo de fibras de frutas, vegetais e cereais integrais.
Reduzindo a toma de antibióticos e antiinflamatórios (que matam a flora intestinal);
Bactérias “boas” que se encontram em leites fermentados, iogurtes, kefir, ou em suplementos alimentares (consultar nutricionista ou médico);
Substâncias que “alimentam” a flora “boa”, como a inulina e fibras solúveis, do alho, cebola, frutas e vegetais em geral.
A disbiose
A disbiose consiste numa alteração da flora intestinal, com predominância de estirpes nocivas.
As suas principais causas são:
- Alergias e intolerâncias alimentares;
- Uso abusivo de laxantes;
- Má alimentação, com ingestão elevada de proteína, de açúcar, de gordura e com baixa ingestão de fibras;
- Stress;
- Deficiente secreção de sucos digestivos;
- Intoxicação por agrotóxicos e metais pesados;
- Uso abusivo de álcool e tabagismo;
- Uso indiscriminado de certos fármacos, como antibióticos, antiinflamatórios, antiácidos e corticóides;
- Quimioterapia;
- Diverticulose e doença inflamatória intestinal
Os sintomas causados pela disbiose são vastos e inespecíficos como obstipação, distensão abdominal, flatulência, dor de cabeça, hiperatividade do sistema imunitário (aumento das crises de asma, rinite, eczema), fadiga, infecções respiratórias recorrentes, mau hálito, náusea e perda de apetite, mudanças de humor, depressão, etc.
O tratamento é feito através da correcção dos hábitos alimentares e da administração oral de simbióticos (pré+próbióticos). Consulte o seu nutricionista para mais esclarecimentos.
Uso de Laxativos
A prática do uso de laxativos para resolver a prisão de ventre está disseminada como a toma de aspirina para uma dor de cabeça. Mas quais as consequências?
O uso de alguns é seguro a longo prazo, enquanto outros deverão ser utilizados só esporadicamente. Para além disso, alguns são adequados para prevenção e outros para o seu tratamento.
Estes são os mais adequados à prevenção da obstipação. São exemplos, as pectinas, o farelo, o psílium, o policarbófilo de cálcio e a metilcelulose, que estimulam as contrações naturais do intestino, tornando as fezes mais volumosas, mais moles e mais fáceis de expulsar. Os agentes formadores de volume atuam lenta e suavemente e são considerados um dos métodos mais seguros para facilitar evacuações regulares. Estes produtos ao princípio são tomados em pequenas quantidades. A dose vai sendo aumentada de modo gradual até se atingir a regularidade das evacuações. A ingestão de 1,5l a 2l de água é indispensável.
Os amolecedores aumentam a quantidade de água nas fezes. De facto, estes laxativos são detergentes que diminuem a tensão superficial das fezes, permitindo que a água penetre nelas com maior facilidade e as amoleça. O aumento da massa fecal estimula as contrações naturais do intestino grosso e ajuda as fezes amolecidas a deslocarem-se com maior facilidade para o exterior do organismo.
Estes são mais agressivos, pois atraem grandes quantidades de água ao intestino grosso, tornando as fezes moles e fluidas. O excesso de líquido também torna as paredes do intestino grosso tensas, estimulando as contrações. Estes laxativos consistem em sais (normalmente de fosfato, de magnésio ou de sulfato) ou açúcares que quase não são absorvidos (por exemplo, lactulose e sorbitol). Estes laxativos costumam actuar no prazo de 3 horas e são melhores no tratamento da prisão de ventre do que na sua prevenção.
Estes estimulam diretamente as paredes do intestino grosso, provocando a sua contração e deslocando as fezes. Contêm substâncias irritantes como o sene, a cáscara-sagrada, o vinagre de cidra, o chá verde, a fenolftaleína, o bisacodilo ou o óleo de rícino. Normalmente, provocam uma evacuação semi-sólida no prazo de 6 a 8 horas, mas, muitas vezes, também provocam cólicas. Quando são administrados em forma de supositório, costumam actuar em 15 a 60 minutos. O uso prolongado de laxativos estimulantes pode danificar o intestino grosso. As pessoas que os utilizam podem tornar-se dependentes destes laxativos, desenvolvendo a síndroma do intestino preguiçoso. Os laxativos estimulantes são muitas vezes utilizados para esvaziar o intestino grosso antes de exames de diagnóstico e para prevenir ou tratar a prisão de ventre provocada pelos fármacos que atrasam as contrações do intestino grosso, como os opiáceos.
Muitas pessoas pensam que sofrem de obstipação se não evacuarem todos os dias, ou sempre à mesma hora. Outras pensam que sofrem de prisão de ventre se o aspeto ou a consistência das suas fezes lhes parece diferente. No entanto, evacuar todos os dias não significa que se seja “normal” e, pelo contrário, uma menor frequência não é forçosamente sinal de um problema. O mesmo se pode dizer acerca da cor e da consistência da matéria fecal.
Se este assunto o preocupa aconselhe-se com o seu médico e nutricionista.
Em conclusão
A prisão de ventre é um sintoma de que algo não está bem com o seu intestino. Órgão este tão importante para a prevenção de várias doenças e para a promoção da saúde, como vimos no parágrafo sobre a flora intestinal e a sua disbiose.