
Vale a pena comer Biológicos?
Nos últimos tempos, os alimentos biológicos têm ganho um destaque importante na alimentação dos portugueses. Vendidos como alimentos produzidos sem recurso a pesticidas e fertilizantes artificiais, estes alimentos parecem ser mais saudáveis do que os de produção habitual. Mas será mesmo assim?

Agricultura Biológica ou Orgânica
A agricultura biológica surgiu em meados do século XX como resposta a uma agricultura demasiado intensiva e com recurso a fertilizantes e pesticidas sintéticos. Na Europa, a Agricultura Biológica é alvo de legislação específica, sendo os seus produtos reconhecidos por um logótipo, que indica que o produtor tem a devida certificação.
A Agricultura BIO usa pesticidas?
Sim! A produção biológica garante apenas 4 pressupostos:
- A não-utilização de antibióticos e hormonas na pecuária.
- O não-cultivo de organismos geneticamente modificados.
- O não-uso de fertilizantes e pesticidas químicos sintéticos, respeitando o meio ambiente.
- O respeito pelo solo e pela biodiversidade, através da rotatividade de culturas.
No entanto, e apesar da crença generalizada que a agricultura biológica não utiliza pesticidas, isto não é verdade, uma vez que estes são essenciais para prevenir pragas e para preservar os alimentos!
A diferença é que, em vez de serem utilizados pesticidas artificiais, são utilizados pesticidas naturais (como o piretro e o sulfato de cobre). Estes, mesmo sendo de origem natural, não são inócuos para a saúde! O que determinará a sua toxicidade será a dose utilizada e, posteriormente, ingerida pelo consumidor.
Por sua vez, a agricultura convencional é sujeita a várias inspeções que assegura que esta quantidade de pesticidas é regulada e em quantidades seguras para o ser humano, não parecendo representar uma ameaça. Na agricultura biológica é ainda mais provável ser contaminada com bactérias como a E. colli e a Salmonella por ser utilizado estrume em vez de fertilizante inorgânico.
Os Biológicos são mais saborosos e nutritivos?
Quanto ao facto dos alimentos biológicos terem mais e melhor sabor, este aspeto é extremamente subjetivo por se tratarem de características organolépticas. A evidência científica aponta para que não hajam diferenças significativas na cor e sabor dos alimentos biológicos para os convencionais em provas cegas. O mesmo se verifica para a crença de que os alimentos biológicos são mais ricos nutricionalmente do que os alimentos convencionais, os estudos apontam para que não hajam diferenças significativas quanto a este parâmetro.
A Agricultura BIO é mais sustentável?
Uma das principais razões que levam os consumidores a optar por alimentos biológicos em detrimento dos convencionais são razões ambientais. O Regulamento da UE 2018/848 atualizado em 2020 define como princípios de produção biológica:
- o respeito pelos sistemas e ciclos da natureza;
- a utilização responsável da energia e dos recursos naturais;
- a valorização da saúde e bem-estar animal.
Apesar de ser verdade que os alimentos biológicos utilizam menos quantidade de recursos energéticos (cerca de 15% comparativamente com a produção convencional), esta utiliza uma muito maior quantidade de terreno (25-110% a mais) e as emissões de gases de efeito de estufa não diferem entre estes dois tipos de produção (fonte Nature2018)
Vale a pena comprar BIO?
Concluindo, não parece haver informação baseada em evidência científica suficiente que justifique afirmar que o consumo de alimentos biológicos apresente benefícios significativamente superiores, comparativamente com os alimentos provenientes de agricultura convencional em termos de saúde, características organolépticas ou para o ambiente.
Na verdade, o marketing ligado aos “BIO” desencoraja o consumidor de comprar não-bio, com o receito de contaminações/malefícios! Assim, seja ou não biológico, comer frutas e vegetais tem menor pegada ecológica do que comer carne, lácteos e produtos industrializados, para além de ser um determinante de saúde! Desmistifique-se a ideia de que os alimentos estão altamente contaminados e por isso mais vale comer “um wrap” ou “uma barrinha proteica, ou mesmo não comer vegetais se não podemos comprar BIO. É este o objetivo deste artigo.