Testemunho #8: «…podemos ser os nossos piores inimigos!»

Como vai caro leitor?

Hoje regressamos à categoria Testemunhos por considerarmos tão importante e inspirador Mulher-Feliz-Capa-Site-525x326
conhecer casos de pessoas diferentes. Este caso é realmente especial, por ser uma pessoa que para muitos não precisaria de qualquer acompanhamento nutricional, já que não tinha peso a perder, era e é magra. Veja como a nutrição é essencial a todos, especialmente quando complementada com a psicologia (leia o artigo O papel da psicologia no sucesso da nutrição):

Durante algum tempo fui apenas uma voyeur deste blogue e de outros com este relacionados. Segui (e sigo) atenta e deliciadamente a “Perna Fina” e tive o enorme prazer de trocar algumas mensagens com a sua autora.

Certo dia, todavia, não me foi suficiente apenas observar, meti-me num avião (sim, porque eu vivo aqui algures no meio do Atlântico) e fui conhecer “ao vivo e a cores” a Dra. Catarina. O nosso primeiro contacto foi engraçado. Eu já a conheci de fotografia, mas mesmo que assim não fosse, todas as dúvidas se dissipariam quando, à chegada do consultório, me sorriu maliciosamente, indicando que seria mais rápido e fácil subir ao 2º andar pelas escadas e não pelo elevador, como o fiz…

Após essa primeira consulta, demos continuidade a este processo em regime de acompanhamento on-line. Um serviço que se encaixou no meu perfil como uma luva. Todas as semanas prestava contas à “tutela” e todas as semanas recebia, com uma pontualidade britânica, orientações precisas e objetivas, reajustamentos do plano, sugestões alimentares… Mas sempre com a mesma insistência: “a Margarida não pode ter sucesso se não tiver acompanhamento psicológico!” Neguei sempre, inventei desculpas e fui caminhando num ritmo destrutivo entre dias exemplares e dias caóticos. Custava-me crer que alguém que apenas tinha uns “desarranjos” pontuais, cujo peso oscilava apenas uns 2 a 3 quilos (sempre, aliás, dentro do normal para idade, peso e altura) e que praticava exercício físico diariamente, carecesse de tal ajuda especializada… Enfim, tive uma “sorte dos diabos” quando decidiram encetar as consultas de Psicologia on-line. Quando cheguei às mãos da Dra. Cláudia vinha num caco disfarçado de sorriso estampado no rosto. Foram apenas necessários alguns minutos para que me desse a conhecer como a pessoa mais desesperançada e descrente do universo e arredores. O carrossel de semanas e dias ótimos e péssimos de acompanhamento nutricional e anos de dietas restritivas certificavam a nulidade que eu acreditava ser e atestavam a certeza ABSOLUTA de ser um caso perdido. Neste primeiro encontro, foi-me pedido apenas que colaborasse, apenas que me desse a oportunidade de tentar… Assim o fiz, mas ainda renitente e resistente. Incrível como podemos ser os nossos piores inimigos!

Ao longo de algumas semanas fui “obrigada” a monitorizar todas as minhas refeições, descrevendo “tintin por tintin” todos os sentimentos e circunstâncias que rodeavam as minhas pequenas e grandes refeições. Fui honesta e leal, era o mínimo que podia fazer… por mim. Mesmo de “mão dada” com a Dra. Catarina e com a Dra. Cláudia, tive dias péssimos, caóticos, cuja ressaca física e emocional levava dias a passar. No entanto, fui ganhando confiança e forças para me erguer das cinzas. Após essas recaídas, já não me sentia tão derrotada e experimentava (quase) prazer em reconhecer-me como uma Fénix Renascida. Tinham-me sido dadas “armas” novas…

Não faço segredo e partilho (com muito prazer!) essas “armas”. Oxalá sejam úteis a alguém!

  1. Num perfil restritivo como o meu, balançava vertiginosamente entre os 8 e os 80. Há que reconhecê-lo e tentar alterá-lo, mas não com mais restrição, culpa ou castigo. Aprendi que não nos devemos negar nada, mas sim substituir alguns prazeres por outros! Sim, trata-se de prazer, satisfação física e emocional que temos que substituir por outros contentamentos alimentares ou não. O essencial é escolher um prazer que não nos penalize logo de imediato ou no dia seguinte.
  2. Adorar comer, cozinhar é afinal uma mais-valia e não um handicap para mim. Sempre o usei como justificação, qual defeito genético, impossível de alterar. Aprendi que não há culpas em ter esse prazer e que ele faz parte da nossa sobrevivência! Sorte a minha que sempre adorei comida saudável, mas quem não tenha essa fortuna, aventure-se na descoberta dos gostos alimentares e vai descobrir um “maravilhoso mundo novo” além dos biscoitos, pão, gomas e chocolates!
  3. Pensar, refletir antes de… “Pensamentos distorcidos” sabem o que são? São uns pequenos bichos verdinhos que poisam no nosso ombro e encontram sempre uma explicação perfeitamente lógica, coerente e, sobretudo, simpática que nos desculpabiliza pela asneira que segue, autorizando a sua repetição quer em momentos de alegria ou tristeza, nos quais “comemos como se não houvesse amanhã”.
  4. Antes, durante e depois! Sim, a informação que aquela comida é suficiente leva algum tempo a chegar ao “computador central”. Aprendi a avaliar a fome que tinha antes, durante, no fim da refeição e… 30 minutos após isso, altura em que recebia a “notícia” correta e fidedigna. Serviço lento e obsoleto, é certo, mas por agora é o que há disponível no mercado. E como imaginam, em meia hora consegue-se comer muito pão, frutos secos e frescos, sobremesas, …
  5. Aprendi a distinguir fome física e fome emocional. Muito simples: a verdadeira fome física não é caprichosa, quer apenas “comida verdadeira” que facilmente se encontra nas inúmeras sugestões do plano nutricional.
  6. Não castigar fisicamente o corpo. Vi um vídeo fantástico que consistia em agradecer ao meu próprio corpo o ter aguentado tanta “porrada”… Efetivamente, ele tem sido valente e leal comigo e eu estou a aprender a gostar dele com todas as suas imperfeitas perfeições. Já uso calções!
  7. Aprender a respirar. Eu? Sim, eu, qual “aceleramento” em pessoa, comecei a fazer meditação orientada (há App’s fantásticas!) e pareceu-me que, dia após dia, estava a fazer um reset de mim mesma. E até já consigo ter prazer em fazer aulas como o Body Balance (com inspiração no ioga). Percebi que nem sempre devemos ter o controlo total das situações e emoções, fazer meditação é deixar-nos levar pela voz de alguém que nos conduz para aquilo que chamaria “back to the basic”.
  8. Aprendi a confessar que estou a aprender sempre e que tenho que temperar com humildade q.b., a euforia e a vaidade de cada vitória. Posso ter estado sempre dentro dos parâmetros normais, posso apenas ter perdido 2 quilos, mas o “excesso de peso” sempre esteve na minha cabeça e não nas minhas coxas! Não estou ainda totalmente confiante neste “conserto”. Sinto-me como um toxicodependente em recuperação: um dia de cada vez, como quem conduz nos primeiros tempos… hesitante e inseguro: algumas marchas-atrás, inversões de marcha e engate de 1º uma e mais uma vez… Mas EU que deixei de fumar há 15 anos (Viva a mim!), sei que agora só muito esporadicamente me apetece um cigarro e, por isso, acredito que, num futuro próximo, também possa a ter essa atitude em relação à comida.

 

Os problemas (e muitos, objetivamente graves!) que me rodeiam não desapareceram. Assumi que a sua resolução e controlo está fora do meu alcance, porém sei que consigo ter uma atitude perante a comida que, ao menos, não contribui para o acréscimo de tristezas. Matemática simples: não posso subtrair, mas posso não somar ou mesmo multiplicar. As coisas simples são as mais eficazes e esses pensamentos (talvez simplistas) têm sido vitais para mim.

Por ora, vou “largar a mão” da Dra. Catarina e da Dra. Cláudia, mas já prometi regressar em setembro, não porque preveja estar em “emergência nacional”, mas (até pelo contrário) porque penso que eu e elas teremos satisfação em ouvir-me. Muito obrigada!

 

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