Alimentação emocional

Como vai caro leitor?

Hoje temos uma colaboração da psicologia e da nutrição sobre um tema que a muitos interessa:

Se por vezes o que pensamos ser compulsão ou alimentação emocional é apenas um reflexo do que comemos (mal) durante o dia, outras vezes, trata-se mesmo de uma alteração do comportamento alimentar.

A perspectiva da psicologia

Quando sentimos vontade de comer, mas essa vontade não se traduz verdadeiramente em fome e sim numa necessidade constante de preencher um vazio, então trata-se de fome emocional.

Face a determinadas situações emocionais (stress, angústia, ansiedade) o alimento pode transformar-se num substituto para o “equilíbrio emocional”.

Não é errado ter emoções negativas, aliás estas emoções são uma forma natural de sentirmos que estamos com um problema. É verdade que são desconfortáveis, não gostamos desta sensação, mas podemos tolerá-la.

Normalmente, a melhor forma de diminuir o stress é responder aos nossos pensamentos negativos e resolver o problema associado ao desconforto emocional. Porém, nem sempre é fácil ir diretamente à resolução do problema (situações fora de controlo), especialmente se já estamos habituados a procurar imediatamente conforto na comida.

São vários os episódios que podem propiciar a ingestão compulsiva de alimentos, nomeadamente:

  • Estados de humor disfórico
  • Estados emocionais (ansiedade, depressão, raiva, rejeição, frustração)
  • Acontecimentos interpessoais stressantes (situações sociais, stress no trabalho, término de um relacionamento)
  • Fome intensa após restrição alimentar
  • Restrição alimentar rígida devido a “dieta”
  • Sentimentos associados ao peso, corpo e comida

Verifica-se assim uma necessidade de preencher um “vazio” que não é fome! É como se procurasse obter um estado de calma através do preenchimento total do espaço gástrico, até à sensação de ausência de vazio.

Após esta ingestão, poderá haver uma redução dos estados emocionais descritos anteriormente, no entanto, prevalecem sentimentos de culpa, fracasso e medo de engordar.

É crucial saber distinguir se a fome é emocional ou se a fome é verdadeiramente física. A fome física é a necessidade de comer desencadeada pela falta de energia, ou seja, é a sensação física e não está relacionada com alimentos específicos. Esta fomeocorre em momentos específicos do dia e quase nunca surge em momentos aleatórios.

Por seu lado, a fome emocional é a vontade de diminuir a sensação do desconforto emocional através da comida, ou seja representa o desejo (já a fome física tem muito mais carga de necessidade). Após comer, a fome emocional ainda gera culpa, arrependimento e pior sensação do que a anterior.

O importante é prestar atenção às razões pelas quais se come compulsivamente.

Se já tentou diferentes opções de auto-ajuda mas mesmo assim não consegue controlar a sua fome emocional, a ajuda de um profissional na área poderá ser uma possibilidade. A terapia ajuda a identificar as motivações da fome emocional e a aprender novas capacidades para enfrentar situações stressantes sem recorrer à comida.

A perspectiva da nutrição

Pois bem, já todos passámos por momentos em que nos descontrolámos, comemos demais, não um prato de comida que estava ótima, mas um pacote de bolachas ou outro consumo irracional por estarmos nervosos, tristes, ansiosos… Destacamos que não pretendemos abordar as doenças do comportamento alimentar, como a anorexia ou bulimia nervosas, mas sim, alterações do comportamento, habitualmente momentâneas e sem recurso a estratégias de compensação (ex. indução do vómito).

Eis 8 estratégias para controlar os impulsos emocionais por comida:

Antes de comer seja o que for, PENSE! Reflita na situação em concreto, descrevendo-a por palavras, por escrito, contando a outra pessoa! Ou seja, pensar antes de agir.

Ache consequências negativas, para aquele comportamento. Ex: aumento do peso, inchaço, roupa apertada, colesterol alto, diabetes, obstipação!

Determine um comportamento alternativo ao que quer eliminar, que não seja comer, que tenha por base uma ação estimulante, que o embrenhe, relaxe e dê prazer: Ex. Tomar um banho quente, passear/ brincar com animal de estimação, ler um livro, ver uma série/programa que goste, ver fotografias antigas, pintar, bordar, escrever, falar ao telefone com um amigo divertido!

Planeie o dia alimentar, por exemplo fazendo um plano para as refeições desse dia, evitando estar muitas horas sem comer. O jejum/ fome é inimigo do controlo!

Faça um diário alimentar no final do dia, de tudo o que se comeu e bebeu, vai ajudar a ter maior perceção e inibe os impulsos! Pode fazê-lo por escrito ou numa das inúmeras aplicações disponíveis para telemóvel.

Não pense demasiado sobre o assunto. A culpa só aumentará a possibilidade de continuar. Em vez disso tome atitudes que o/a façam sentir bem, competente e aumente a sua auto-estima e sensação de controlo, como: exercício, arranjar o cabelo, fazer maquilhagem, escolher uma roupa em que se sinta confiante, fazer uma massagem/drenagem, colocar um creme adelgaçante, preparar refeições saudáveis, etc…

 Significa diminuir a exposição a “tentações! Existem alimentos que simplesmente não podemos ter em casa! A acessibilidade e disponibilidade diminuem o controlo! Pelo que se adora bolachas não as compre! Tente comer estes alimentos só em ocasiões especiais e fora de casa.

Quando não se consegue sozinho, vale a ter alguém da nossa confiança a ajudar ou monitorizar (positivamente) o nosso comportamento, ajuda imenso! basta às vezes um olhar para percebermos que estamos a exagerar.

Em conclusão

Estas são 8 estratégias  que nos ajudam a pôr termo a um comportamento indesejado.

A alimentação emocional é uma prática comum na nossa sociedade devido aos altos níveis de stress e exigência a que estamos sujeitos. É fundamental que não se restrinja demasiado para evitar episódios compulsivos.

Procure um profissional de saúde que o ajude a compreender e a ultrapassar esses momentos. Não se conforme.