
Madeira – um roteiro gastronómico de 3 dias
Hoje orgulho-me de dizer que chegamos ao artigo 100! Não é muito para 1 ano, mas tento sempre produzir artigos com conteúdo, bem sustentados e escritos de uma forma apelativa. Assim, é difícil arranjar tempo para escrever mais.
Pois bem, o artigo de hoje é, como prometido, sobre a minha foto-reportagem da gastronomia madeirense. A verdade é que nos 3 dias que estive na ilha fiz questão de só comer iguarias típicas da Madeira.
Num coopto geral, adorei a ilha! Tem uma luminosidade especial, daquelas só possíveis quando o sol reflete no mar… é maravilhosa. Para além disso, a ilha transparece calma, paz, simpatia, harmonia, simplicidade e até uma certa introspecção. Já vamos à gastronomia, primeiro tenho a dizer que realmente do que mais gostei: as belezas naturais! Desde a geologia até à fauna e principalmente à flora da ilha!
Tive oportunidade de dar uma passeio pela ilha, vendo alguns dos seus recantos mais belos. O nosso roteiro foi:
- Saída do Funchal
- Câmara de Lobos (almoço)
- Subida ao Cabo Girão (o mais alto promontório da Europa e o segundo mais alto do mundo com 580m)
- Ponta do Sol (e o seu declive negro para uma linda praia de seixos de basalto)
- Subida ao Paul da Serra (o maior Planalto da Madeira, ergue-se a 1300m!)
- Descida para Porto Moniz (e as suas lindas piscinas naturais)
- São Vicente (por entre montes e vales, com a estrada recheada de quedas de água naturais)
- Santana (visita às casas típicas)
- Machico
- Caniçal (jantar)
- Ponta de São Lourenço (o ponto mais oriental da ilha)
- Regresso ao Funchal (muito cansados!)
No segundo dia tive ainda oportunidade de fazer a subida ao Monte por teleférico e a descida (também por teleférico) para o Jardim Botânico Eng. Rui Viegas. Este é uma delícia aos sentidos dos apreciadores da natureza como eu. A catalogação das espécies está perfeita, a organização e a diversidade de plantas são fascinantes!
No último dia passeei pelas ruas do Funchal, apreciando a sua arquitetura de inspiração britânica, os seus fortes, o Mercado dos Lavradores, o Madeira Story Centre e a fantástica limpeza e organização da cidade. Muito ficou por ver, ouvir e sentir… fica para uma próxima viagem!
Gastronomia Madeirense
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Bodião com milho frito |
Enquanto estive na ilha fiz questão só comer iguarias típicas! Experimentei quase tudo (acho eu…) ora veja:
A primeira refeição na ilha foi o almoço em Câmara de Lobos, no restaurante “Vila do Peixe”. Este dispõe de uma bancada onde o cliente aprecia e escolhe o peixe, de acordo com o seu gosto. Rapidamente me chamou a atenção um peixe encarnado e preto, que me explicaram ser Bodião, uma espécie típica da ilha que come algas do fundo e das rochas, daí a sua carne ser branca e macia. Assim foi. Acompanhado de milho frito e salada! Logo questionei sobre o milho claro. Estava à espera que fossem mesmo servidos os grãos do cereal, mas não. Consiste então em farinha de milho amassada com água e especiarias, cortada em cubos e frita em óleo. Gostei!
Depois de uma tarde às voltas pelas estradas secundárias da ilha confesso que estava meio enjoada. Pelo que ao final do dia parámos para petiscar no Caniçal. Este é uma terra de peixes e mariscos. No “Muralhas Bar” pedimos as tão aclamadas lapas grelhadas, os mexilhões e os camarões, acompanhados por uma rosca madeirense (pão) quente e divinal! Adorei as lapas, o senhor explicou que quando grelhadas, o suco da lapa permanece na casca, fazendo “o molho que é o melhor do petisco!”.
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Lapas grelhadas |
No sábado ao almoço fiz questão de continuar o meu périplo pela gastronomia madeirense. Fomos desta vez à Zona Velha do Funchal, que está recheada de restaurante típicos. No “Estrela do Mar” começámos pela entrada mais esperada, o bolo do caco. Consiste numa massa de pão redonda, com manteiga e alho. Gostei, mas não me surpreendeu. De seguida decidi arriscar e escolhi Filetes de Espada com molho de banana maracujá! Sinceramente, quando provei achei demasiado doce, o facto é que pouco depois estava a adorar! Foi-me explicado que na Madeira enxertam o arbusto do maracujá na típica bananeira-anã, daí os pratos e bebidas que juntam estes sabores (por exemplo a Poncha!)
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Bolo do caco e Filetes de Espada com banana maracujá |
Ao jantar voltámos à Zona Velha, desta vez ao Restaurante “Tapassol” para provar a espada de carne de vaca em pau louro, acompanhada por mais ex-libris da Madeira: batata doce salteada, milho frito e legumes diversos. Não posso deixar de referir que para aperitivo nos foi oferecido um cálice de Vinho da Madeira de um produtor local. Estava divinal! Para sobremesa escolhi um bolo da Madeira, regado com o mesmo vinho digestivo. As passas embebidas no vinho doce deram um toque maravilhoso à sobremesa.
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Carne de vaca em pão de louro, com batata doce salteada e milho frito | Bolo da Madeira |
Tenho de acrescentar que nessa noite ainda bebi uma poncha, feita no momento! Estive atenta a ver o processo e pelo que percebi consiste em: maceração do maracujá com mel e limão, junto com aguardente de cana de açúcar produzida na ilha. Foi-me explicado que se pode também fazer com kiwi, laranja, tangerina, banana… haja imaginação! Em termos de apreciação, gostei bastante, porque não sou fã de “bebidas”.
No último dia ao almoço, depois de uma manhã de caminhada pelas ruas do Funchal, sentei-me na Rua D. Carlos I num restaurante com esplanada virada para o teleférico. O dia estava encoberto, mas agradável. Desta vez, fiz uma escolha segura: bife de atum grelhado com legumes. É óbvio que não desiludiu.
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Bife de atum grelhado |
Estas foram as minhas refeições principais! As que realmente degostei (e adorei). Contudo, posso ainda acrescentar que provei (do prato do meu noivo) um fantástico polvo guisado e uma espetada de lulas e camarão também muito boa! Tudo é bom nesta ilha!
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Polvo guisado e espetada de lulas com camarão |
Tenho ainda de acrescentar que é claro que comi alguma doçaria! Nomeadamente o Bolo de Mel e a Queijada da Madeira. O primeiro é um bolo mais denso, ideal para um lanche da tarde. Os seus ingredientes são típicos da ilha: mel de cana, farinha, açúcar, frutas, cidra regional e vinho da Madeira. Por sua vez a queijada – mais leve – é uma mistura de requeijão, farinha de trigo, ovos e açúcar. Gostei de ambas e recomendo (não haveria eu de gostar de doces…)!
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Bolo de Mel e Queijada da Madeira |
Muito ficou por ver e por provar. A Madeira é um Portugal à parte, mas calmo e mais bonito. A sua cultura e costumes são uma lição para quem passa a vida no bulício de Lisboa. De certeza que irei voltar para sentir o que me escapou. Aconselho a todos uma visita a esta ilha cheia de luz, cor e tradição, que apela a todos os nossos sentidos.
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Dietista Catarina Cachão Bragadeste na Praça do Município, Funchal |