Reeducação alimentar ou Dieta?

Como vai caro leitor?

Hoje vamos fazer um artigo sobre a importância “do plano alimentar” num contexto de reeducação. Parece um assunto banal e sem interesse, mas rapidamente vai perceber que não!

Um plano, como o próprio nome indica consiste numa definição de intenções, um projeto. Como em qualquer outra área, ele deve ser totalmente personalizado, mutável e evolutivo. Portanto, não é suposto um plano durar “o resto da vida”, nem mesmo vários meses. Em nutrição, os planos devem variar bastante, de pessoa para pessoa e ao longo do tempo do acompanhamento. É semelhante a um plano de atividade física, ele deve evoluir à medida que vai desenvolvendo a sua capacidade.

Deste modo, quando alguém pede a um nutricionista “para lhe fazer um plano”, ou copia um plano da internet, não poderia estar mais errado. Nenhum nutricionista elabora planos nutricionais com base numa conversa ou num pedido.

Atualmente, na linguagem corrente, é comum designar-se um “plano alimentar” por “dieta”, no sentido restritivo da palavra.

DIETA significa:

Alimentos (inclusive bebidas) que a pessoa usualmente come e bebe.

Na realidade quando se elabora uma dieta está-se a definir um plano alimentar. Porém, este pode ter diversos objetivos: tratamento/prevenção de doenças, correção de determinados sintomas (ex. prisão de ventre), adequação ao treino, emagrecimento ou simplesmente correção dos hábitos alimentares. Assim, um plano alimentar pode ser rico/pobre em determinado nutriente (fibras, proteínas, glícidos, lípidos, vitaminas e minerais), de uma forma continua ou apenas transitória. Por exemplo, no tratamento das doenças inflamatórias do intestino (ex. colite), as quantidades e tipos de fibra da dieta podem variar bastante, desde fases em que tiramos toda a fibra, até outras em que a introduzimos diariamente. Percebe-se então que dieta não é sinónimo de emagrecimento, mas sim de alteração do padrão alimentar.

Um plano alimentar deve ser baseado em:

  • História de saúde (ex. doenças, internamentos, cirurgia, medicação, suplementação)
  • Exames (ex. análises clínicas, ecografias, endoscopias)
  • História dietética (ex. dietas anteriores, variação do peso, análise do livro dos percentis em crianças, intolerâncias ou alergias alimentares, hidratação, trânsito intestinal)
  • História de atividade física (ex. atual e anterior)
  • Contexto social, preferências/aversões, objetivos…

Deste modo, se lhe for prescrito um plano alimentar sem ter em atenção alguns destes aspetos, então não será realmente personalizado, ou seja, adaptado a si. Por outro lado, se o plano inicial for para 1 mês ou mais, então não é um plano, mas sim um guia ou conjunto de regras. Lembre-se que o plano deve ser mutável ao longo do tempo, em questões tão simples como o seu gosto, os seus turnos, a sua tolerância intestinal, a saciedade ou fome, o treino que fizer… Não “venha para casa” com um plano para um mês, ou com um plano já pré-escrito, em que o profissional apenas assinalou itens ou completou frases. Esse não é O SEU plano alimentar, mas sim “o de qualquer um”. Isto é muito comum em casos em que a nutrição não é o foco do tratamento, mas sim outros serviços/produtos.  Mesmo para quem pratica exercício, a alimentação deve ser sempre o foco principal, sem ela não irá com certeza atingir os seus objetivos.

Artigo sugerido: Acompanhamento semanal, porquê?

Outro aspeto:

Quando se dirige a uma consulta de nutrição, onde deve ser atendido por um nutricionista registado na Ordem (não um médico, um personal trainer, uma técnica de estética, ou alguém que tenha tido sucesso a emagrecer!), vem com certeza com um objetivo ou intenção:

…”Gostaria de emagrecer” ou “de perder barriga” ou “de adequar o meu plano ao treino”…

De facto a maioria das pessoas indica a vontade de perder peso como a razão predominante para ir à consulta. Porém, se o nutricionista que escolheu “for dos bons”, vai tratá-lo como um todo. O que quer isto dizer? Se lhe disser que quer emagrecer, passarem à pesagem e depois ao plano, acredite que esse não é o SEU PLANO (nem o seu nutricionista). É apenas um conjunto de pressupostos de emagrecimento. Se, pelo contrário, ele tiver em conta todos os aspetos que atrás descrevemos, então pode cumprir o que lhe foi proposto com confiança!

Um exemplo prático:

Uma paciente vem à consulta manifestando desejo de perder “alguns quilos ganhos no último ano”. Porém, através da história de saúde e dietética, percebemos que a paciente está no limiar da diabetes, apresenta valores de hormonas da tiróide descontroladas, está frequentemente obstipada e sofre de gases. Portanto, se apenas ouvíssemos a parte inicial “quero emagrecer”, o plano teria uma qualquer restrição nutricional, mas não trataria esta paciente. Provavelmente teria resultados temporários, que até lhe poderiam agravar os sintomas como os gases e a obstipação, levando-a a desistir. O que “um bom” nutricionista faz (ou deveria fazer) é perceber qual(ais) a(s) causa(s) do aumento do peso e adequar o plano alimentar aos sintomas base, não ao objetivo final da paciente que é emagrecer. Neste caso específico, ao adequarmos o plano à pré diabetes, estimularmos a tiróide, adequarmos o tipo de fibras e reduzirmos os fermentos/lactose que causam a inflamação intestinal, iríamos certamente “acordar” o seu metabolismo e assim, com um plano, muito menos restritivo, levar aquele corpo a “voltar ao seu peso”. Percebeu? O plano alimentar não é de emagrecimento, mas iria, de certeza, conduzir a esse fim. A isto se chama tratar o paciente e não “fazer uma dieta”.

Todos nós somos “um conjunto de condições” que devem ser tidas em conta numa consulta de nutrição. Para fazer isto, um nutricionista precisa de pelo menos 45 minutos numa primeira consulta, mesmo que as seguintes, de adequação do plano, sejam mais rápidas. Se a sua primeira visita ao nutricionista demorar 15 minutos deve tirar as suas próprias conclusões.

Como diz o nosso slogan:

É normal que se sinta um pouco assustado ao iniciar um plano alimentar, é óbvio que irá mudar muita coisa! Caso contrário não estaria ali. Gradualmente, verá esse plano transformar-se num modo de vida, que segue sem esforço e que até estranha quando não o faz. Mas atenção! Ter hábitos alimentares saudáveis não significa NUNCA comer nada menos bom! Pelo contrário, há que ter equilíbrio e saber introduzir na sua vida esses pequenos momentos de prazer. Se assim for, haverá harmonia entre o seu corpo e mente e conseguirá seguir em frente, sem pensar “quando é que isto acaba?”. Nada do que nos faz sofrer, castrar, privar é para sempre e por isso, também os seus resultados serão temporários. Do que lhe adianta seguir um plano restritivo durante X dias ou à base de substitutos de refeição (ex. batidos) ou medicação/suplementação, se sabe que isso não será para sempre? De que lhe valeu o dinheiro gasto e a privação? De nada. Será só mais uma frustração que adia a verdadeira mudança, a do estilo de vida.  É nisto que acreditamos e é assim que trabalhamos no Diário de uma Dietista®.