Vale a pena tomar Suplementos?

Caros leitores, hoje o tema é polémico.

Vamos falar sobre suplementação alimentar. Antes de mais há que saber o que são e quais as diferenças entre suplementos e medicamentos:

Fonte: dgv.min-agricultura.pt

“Que grande chatice ler tudo isto”.

Porém, é essencial para se perceber a diferença entre suplemento e medicamento. Destacamos que os medicamentos são amplamente testados em termos de eficácia e segurança, tendo uma dose/efeito bem estabelecida. Já com os suplementos isso não acontece. Não são testados em termos de eficácia nem de segurança, sendo tratados como alimentos. Sabemos que não é bem assim. Não são inócuos e deles podem advir desvantagens para a saúde, toxicidade e interações com medicamentos. Existem estudos isolados, com metodologias variadas (e questionáveis) sobre a planta X ou o ingrediente Y, mas em conjunto desconhecemos os seus efeitos, podem ser “os esperados, “inesperados” ou “placebos”.

A EFSA – Entidade Europeia para a Segurança Alimentar – tem trabalhado neste campo, com o objetivo de avaliar a segurança dos ingredientes botânicos com uma abordagem baseada na ciência. Esta entidade fornece os critérios para estabelecer o uso seguro de produtos botânicos ou preparações derivadas. Este trabalho foi iniciado em 2004, contudo, foi em 2009, que a EFSA publicou um conjunto de ferramentas para avaliar a segurança de produtos botânicos e preparações derivadas: estas destinam-se tanto a avaliadores de risco que determinam a segurança de um determinado ingrediente botânico, como a fabricantes de alimentos que são responsáveis ​​por garantir que os produtos que colocam no mercado são seguros. Uma dessas ferramentas é um compêndio de ingredientes botânicos que foram descritos como potencialmente inseguros para a saúde, em alimentos ou suplementos alimentares. Pode consultá-lo neste link. Mais uma vez se destacada que foram testados isoladamente e não em conjunto num suplemento alimentar.

Outro importante papel da EFSA é emitir pareceres com base científica, sobre possíveis alegações de saúde  de uma determinada substância sobre um efeito fisiológico, submetidas por entidades competentes e empresas (link). Vamos dar um exemplo: As autoridades Alemãs pediram o parecer da EFSA sobre a capacidade da L-carnitina normalizar o metabolismo lípidico (link). A EFSA concluiu que não há evidência científica suficiente para se estabelecer relação causa-efeito, tendo a afirmação sido refutada. Outro exemplo: foi avaliada a segurança da suplementação em crómio em alimentos e suplementos. Neste caso a EFSA determinou que é seguro desde que a dosagem não ultrapasse os 250μg/dia (link).

Colocamos nós uma questão: uma vez que os suplementos são de venda livre, quais os riscos de se tomar vários suplementos que contenham esta dose de crómio? O mesmo pode acontecer com suplementos que contenham minerais e vitaminas bio-acumuláveis, como a vitamina E e o selénio, com risco de toxicidade para o fígado, para a pele e sistema nervoso. Assim, é essencial que não tome vários suplementos em simultâneo, sem aconselhamento de um profissional de saúde.

Pareceres positivos pela EFSA

São poucas as substâncias com pareceres positivos pela EFSA. Não significa que não existam, mas sim que não há evidência científica suficiente para os comprovar. Destas uma boa parte é estudada em populações específicas, como os atletas. Vamos a alguns exemplos mais conhecidos:

  1. Proteína whey  – parecer positivo sobre a alegação “manutenção ou crescimento da massa muscular”.
  2. Cafeína – parecer positivo para “aumento do estado de alerta e da concentração”
  3. Aminoácido L-tyrosina – parecer positivo para “síntese normal de catecolaminas” (dopamina, adrenalina, noradrenalina)
  4. Zinco – parecer positivo para “manutenção de uma pele normal; síntese de DNA e divisão celular; normal síntese proteica e metabolismo dos hidratos de carbono; manutenção da concentração circulante de testosterona; cabelo e unhas saudáveis”
  5. Vitamina B12 – parecer positivo para “normal metabolismo da homocisteína; redução do cansaço/fadiga; normal divisão celular”
  6. Vitamina B6 – parecer positivo para “normal metabolismo da homocisteína; energia/vitalidade e contração muscular; funções psicológicas normais; redução do cansaço/fadiga”
  7. Vitamina E – parecer positivo para “proteção do DNA, proteínas e lípidos de danos oxidativos”
  8. Creatina – parecer positivo para “melhoria da performance durante exercícios intensos, repetidos e de curta duração (séries), numa dose de 3g/dia em adultos que façam exercício de alta-intensidade”.
  9. Quitosano – parecer positivo para “manutenção dos níveis normais de colesterol LDL, numa dose de 3g/dia”.
  10. Monacolina K (levedura de arroz vermelho) – parecer positivo para “manutenção dos níveis normais de colesterol LDL, numa dose de 10mg/dia”

No geral, as vitaminas e minerais têm pareceres positivos quanto ao seu principal efeito fisiológico. Porém, desconhece-se o seu efeito quando concentrados em “multivitamínicos”, nomeadamente ao nível da biodisponibilidade, capacidade de absorção no tubo digestivo, interações com nutrientes e medicamentos.

A grande maioria das substância que se alegam “potenciadoras do emagrecimento” não têm sustentação científica.(OHHHHH) Sendo que pesquisámos pelas substâncias mais usadas em suplementos para emagrecimento e nenhuma delas reuniu pareceres positivos da EFSA (Ex. chá verde, CLA, L-carnitina, quitosano, cafeína, BCAA’s…)


Portanto, as perguntas (e não conclusões) que deixamos no fim deste artigo para refletir são:

  • Qual a garantia de que determinado suplemento terá o efeito “esperado” no seu organismo?
  • Será que o suplemento é corretamente absorvido, metabolizado e excretado pelo seu corpo?
  • Será que o suplemento irá interagir com algum medicamento?
  • Qual o risco de tomar a mesma substância em vários suplementos e atingir o nível de toxicidade?
  • Quem analisa a qualidade/quantidade das substâncias descritas no rótulo e garante de facto a sua presença, sem outros contaminantes? Algumas marcas fazem-no de “livre vontade” como garantia de qualidade.
  • Já ponderou a relação benefício/custo? O preço de um suplemento ronda (quase sempre) as dezenas de euro, será que está a pagar por um placebo? Não sabemos.

O uso de suplementos alimentares deve ser supervisionado por um profissional de saúde. Não se “auto-suplemente”, pois está a pôr em risco a sua saúde.